Sabe… é engraçado ver como as pessoas se esquecem facil do verdadeiro significado das coisas, quando se tem uma boa propaganda.
Hoje em dia a única coisa que nos vem na cabeça quando pensamos em páscoa é que tem muito chocolate e coelhos… e OVOS! Que eu ainda vou descobrir quem inventou ovo de coelho! Porque né… não faz muito sentido! rs
Mas o verdadeiro sentido da Páscoa, é nos lembrar de Jesus, e em como ele… sendo Deus supremo, se fez carne, e habitou entre nós. E ainda morreu para nos dar a chance de um dia, termos a vida eterna.
Essa data é uma mistura de tristeza por vermos que as pessoas se esqueceram de seu verdadeiro significado, e por ver o sofrimento que Jesus Cristo sofreu por nós, pecadores e muitas vezes ingratos. Porém é uma data feliz, por mostrar que temos um Redentor amoroso e piedoso. E o melhor… Vivo. Pois o plano da Redenção não acabou ali, no calvário… Jesus ressuscitou no 3º dia, e Continua VIVO, para todo o sempre!
Eu selecionei um texto, da Ellen White, que conta com mais detalhes tudo isso que estou falando… porém é meio grande… mas falo só uma coisa… Vale a pena! E tire um tempinho, para pensar em tudo isso. Com 3 dias livres, não é desculpa a falta de tempo não é mesmo!? rs
O texto foi tirado daqui:
O Desejado de Todas as Nações, capítulos 78 a 81, das páginas 524 a 561.
Boa leitura!
Capítulo 78 — O Calvário
Este capítulo é baseado em Mateus 27:31-53; Marcos 14:20-38; Lucas 23:26-46; João 19:16-30.
E quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali O crucificaram”. Lucas 23:33. “Para santificar o povo pelo Seu próprio sangue”, Cristo “padeceu fora da porta”. Hebreus 13:12. Pela transgressão da lei divina, Adão e Eva foram banidos do Éden. Cristo, nosso substituto, devia sofrer fora dos limites de Jerusalém. Ele morreu fora da porta, onde eram executados malfeitores e homicidas. Plenas de sentido são as palavras: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-Se maldição por nós”. Gálatas 3:13. {DTN 524.1}
Uma vasta multidão seguiu a Jesus do tribunal ao Calvário. As novas de Sua condenação se espalharam por toda Jerusalém, e gente de todas as classes e de todas as categorias afluíam ao lugar da crucifixão. Os sacerdotes e principais haviam-se comprometido, caso Jesus lhes fosse entregue, a não molestar Seus seguidores; e os discípulos da cidade e dos arredores uniram-se à multidão que acompanhava o Salvador. {DTN 524.2}
Ao passar Jesus a porta do pátio de Pilatos, a cruz preparada para Barrabás foi-lhe deposta nos feridos, sangrentos ombros. Dois companheiros de Barrabás deviam sofrer a morte ao mesmo tempo que Jesus, e sobre eles também foi posta a cruz. A carga do Salvador era demasiado pesada para o estado de fraqueza e sofrimento em que Se achava. Desde a ceia pascoal com os discípulos, não tomara Ele nenhum alimento, nem bebera. Angustiara-Se no jardim do Getsêmani em conflito com as forças satânicas. Suportara a agonia da traição, e vira os discípulos abandonarem-nO e fugir. Fora levado a Anás, depois a Caifás e em seguida a Pilatos. De Pilatos fora mandado para Herodes, e reenviado a Pilatos. De um insulto para outro, de uma a outra zombaria, duas vezes torturado por açoites — toda aquela noite fora uma sucessão de cenas de molde a provar até ao máximo uma alma de homem. Cristo não fracassara. Não proferira palavra alguma que não visasse a glória de Deus. Através de toda a ignominiosa farsa de julgamento, portara-Se com firmeza e dignidade. Mas quando após ser açoitado pela segunda vez, a cruz Lhe foi posta sobre os ombros, a natureza humana não mais podia suportar. Caiu desmaiado sob o fardo. {DTN 524.3}
A multidão que seguia o Salvador viu Seus fracos, vacilantes passos, mas não manifestou compaixão. Insultaram-nO e injuriaram-nO por não poder conduzir a pesada cruz. De novo Lhe foi posto em cima o fardo, e outra vez caiu desmaiado por terra. Viram os perseguidores que Lhe era impossível levar mais adiante aquele peso. Não sabiam onde encontrar alguém que quisesse transportar a humilhante carga. Os próprios judeus não o podiam fazer, pois a contaminação os impediria de observar a páscoa. Ninguém, mesmo dentre a turba que O acompanhava, quereria rebaixar-se e carregar a cruz. {DTN 524.4}
Por essa ocasião um estranho, Simão, cireneu, chegando do campo, encontra-se com o cortejo. Ouve as zombarias e a linguagem baixa da turba; ouve as palavras desdenhosamente repetidas: Abri caminho para o Rei dos judeus! Detém-se espantado com a cena; e, ao exprimir ele compaixão, agarram-no e lhe põem nos ombros a cruz. {DTN 525.1}
Simão ouvira falar de Jesus. Seus filhos criam no Salvador, mas ele próprio não era discípulo. O conduzir a cruz ao Calvário foi-lhe uma bênção e, posteriormente, mostrou-se sempre grato por essa providência. Isso o levou a tomar sobre si a cruz de Cristo por sua própria escolha, suportando-lhe sempre animosamente o peso. {DTN 525.2}
Não poucas mulheres se acham na multidão que segue à Sua morte cruel Aquele que não foi condenado. Sua atenção fixa-se em Jesus. Algumas O tinham visto antes. Outras Lhe levaram doentes e sofredores. Outras ainda foram, elas mesmas, curadas por Ele. Relata-se então a história das cenas que ocorreram. Elas se admiram do ódio da turba para com Aquele por quem o coração se lhes comove quase a ponto de partir-se. E não obstante a ação da enfurecida massa, e as coléricas palavras dos sacerdotes e principais, essas mulheres exprimem o compassivo interesse que as possui. Ao cair Jesus desfalecido sob a cruz, irrompem em lamentoso pranto. {DTN 525.3}
Foi isso unicamente que atraiu a atenção de Cristo. Embora em meio de tanto sofrimento, enquanto suportava os pecados do mundo, não era indiferente à expressão de dor. Com terna simpatia contemplou essas mulheres. Não eram crentes nEle; sabia que não O estavam lamentando como um enviado de Deus, mas movidas por sentimentos de piedade humana. Não lhes desprezava a simpatia, mas esta Lhe despertou no coração outra, mais profunda ainda, para com elas mesmas. “Filhas de Jerusalém”, disse Ele, “não choreis por Mim, mas chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos”. Lucas 23:28. Do espetáculo que tinha diante de Si, alongou Jesus o olhar ao tempo da destruição de Jerusalém. Naquela terrível cena, muitas das que estavam chorando agora por Ele, haveriam de perecer com seus filhos. {DTN 525.4}
Da queda de Jerusalém passaram os pensamentos de Jesus a um mais amplo juízo. Na destruição da impenitente cidade viu Ele um símbolo da final destruição a sobrevir ao mundo. Disse: “Então começarão a dizer aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos. Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao seco?” Lucas 23:30, 31. Pelo madeiro verde, Jesus Se representava, o inocente Redentor. Deus permitiu que Sua ira contra a transgressão caísse sobre Seu amado Filho. Devia ser crucificado pelos pecados dos homens. Que sofrimento, então, havia de suportar o pecador que continuasse na transgressão? Todos os impenitentes e incrédulos teriam de conhecer uma dor e miséria que a língua é impotente para exprimir. {DTN 525.5}
Da multidão que acompanhava o Salvador ao Calvário, muitos O haviam seguido com jubilosas hosanas e agitando palmas, enquanto marchava triunfalmente para Jerusalém. Mas não poucos dos que então Lhe entoaram louvores porque era popular assim fazer, avolumavam agora o clamor: “Crucifica-O, crucifica-O”! Lucas 23:21. Quando Jesus cavalgava o jumento em direção de Jerusalém, as esperanças dos discípulos subiram ao mais alto grau. Tinham-se-Lhe aglomerado em torno, sentindo ser elevada honra estar ligados a Ele. Agora, em Sua humilhação, seguiam-nO a distância. Estavam possuídos de pesar e curvados ante o malogro de suas esperanças. Como se verificavam as palavras de Cristo: “Todos vós esta noite vos escandalizareis em Mim; porque está escrito: Ferirei o Pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão”. Mateus 26:31. {DTN 526.1}
Chegando ao lugar da execução, os presos foram ligados ao instrumento da tortura. Os dois ladrões lutaram às mãos dos que os puseram na cruz; Jesus, porém, nenhuma resistência opôs. A mãe de Jesus, apoiada por João, o discípulo amado, seguira seu Filho ao Calvário. Vira-O desmaiar sob o peso do madeiro, e anelara suster com a mão aquela cabeça ferida, banhar aquela fronte que um dia se lhe reclinara no seio. Não lhe era, no entanto, concedido esse triste privilégio. Ela, como os discípulos, acalentava ainda a esperança de que Jesus manifestasse Seu poder e Se livrasse dos inimigos. Mais uma vez seu coração desfaleceria, ao evocar as palavras em que lhe haviam sido preditas as próprias cenas que se estavam desenrolando então. Enquanto os ladrões eram amarrados à cruz, ela observava em angustiosa suspensão. Haveria de Aquele que dera vida aos mortos, sofrer o ser Ele próprio crucificado? Suportaria o Filho de Deus o ser tão cruelmente morto? Deveria ela renunciar a sua fé de que Jesus era o Messias? Deveria testemunhar-Lhe a vergonha e a dor, sem ter sequer o consolo de servi-Lo em Sua aflição? Viu-Lhe as mãos estendidas sobre a cruz; foram trazidos o martelo e os pregos, e, ao serem estes cravados na tenra carne, os discípulos, fundamente comovidos, levaram da cruel cena o corpo desfalecido da mãe de Jesus. {DTN 526.2}
O Salvador não murmurou uma queixa. O rosto permaneceu-Lhe calmo e sereno, mas grandes gotas de suor borbulhavam-Lhe na fronte. Nenhuma mão piedosa a enxugar-Lhe do rosto o suor da morte, nem palavras de simpatia e inabalável fidelidade para Lhe confortar o coração humano. Enquanto os soldados executavam a terrível obra, Jesus orava pelos inimigos: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Lucas 23:34. Seu pensamento passou da dor própria ao pecado dos que O perseguiam, e à terrível retribuição que lhes caberia. Nenhuma maldição invocou sobre os soldados que O estavam tratando tão rudemente. Nenhuma vingança pediu contra os sacerdotes e príncipes que contemplavam com maligna satisfação o cumprimento de seu desígnio. Cristo Se apiedou deles em sua ignorância e culpa. Só exalou uma súplica por seu perdão — “porque não sabem o que fazem”. {DTN 526.3}
Soubessem eles que estavam torturando Aquele que viera salvar da eterna ruína a raça pecadora, e ter-se-iam possuído de remorso e horror. Sua ignorância, porém, não lhes tirava a culpa; pois era seu privilégio conhecer e aceitar a Jesus como seu Salvador. Alguns deles veriam ainda o seu pecado, e arrepender-se-iam e se converteriam. Alguns, por sua impenitência, tornariam, a seu respeito, uma impossibilidade o deferimento da súplica de Jesus. Todavia, assim mesmo o desígnio de Deus tinha seu cumprimento. Jesus estava adquirindo o direito de Se tornar o advogado dos homens na presença do Pai. {DTN 527.1}
Aquela oração de Cristo por Seus inimigos abrangia o mundo inteiro. Envolvia todo pecador que já vivera ou viria ainda a viver, desde o começo do mundo, até ao fim dos séculos. Pesa sobre todos a culpa de crucificar o Filho de Deus. A todos é gratuitamente oferecido o perdão. “Quem quiser” pode ter paz com Deus, e herdar a vida eterna. {DTN 527.2}
Assim que Jesus foi pregado à cruz, ergueram-na homens vigorosos, sendo com grande violência atirada dentro do lugar para ela preparado. Isso produziu a mais intensa agonia ao Filho de Deus. Pilatos escreveu então uma inscrição em hebraico, grego e latim, colocando-a no madeiro, por sobre a cabeça de Jesus. Rezava: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.” Essa inscrição irritou os judeus. Haviam gritado no pátio de Pilatos: “Crucifica-O”! “Não temos rei senão o César”. João 19:15. Tinham declarado que, quem quer que reconhecesse outro rei, era traidor. Pilatos escreveu o sentimento que haviam expresso. Nenhuma ofensa era mencionada, a não ser que Jesus era Rei dos Judeus. A inscrição era um virtual reconhecimento da fidelidade dos judeus ao poder romano. Declarava que qualquer que pretendesse ser Rei de Israel, seria por eles julgado digno de morte. Os sacerdotes se haviam enganado. Quando estavam tramando a morte de Cristo, Caifás declarara conveniente que um homem morresse pela nação. Agora se revelava sua hipocrisia. A fim de eliminar a Cristo, prontificaram-se a sacrificar a própria existência nacional. {DTN 527.3}
Os sacerdotes viram o que tinham feito, e pediram a Pilatos que mudasse a inscrição. Disseram: “Não escrevas Rei dos Judeus; mas que Ele disse: Sou Rei dos Judeus.” Mas Pilatos estava indignado contra si mesmo por causa de sua anterior fraqueza, e desprezou inteiramente os invejosos e astutos sacerdotes e príncipes. Respondeu friamente: “O que escrevi, escrevi”. João 19:21, 22. {DTN 527.4}
Um poder mais alto que Pilatos ou os judeus dirigia a colocação daquela inscrição por sobre a cabeça de Jesus. Na providência divina, devia ela despertar reflexão e o exame das Escrituras. O lugar em que Cristo estava crucificado achava-se próximo da cidade. Milhares de pessoas de todas as terras se encontravam em Jerusalém naquele tempo, e a inscrição que declarava Jesus de Nazaré o Messias lhes chamaria a atenção. Era uma verdade palpitante, transcrita por mão guiada por Deus. {DTN 527.5}
Nos sofrimentos de Cristo sobre a cruz, cumpriu-se a profecia. Séculos antes da crucifixão, predissera o Salvador o tratamento que havia de receber. Dissera: “Pois Me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores Me cercou, transpassaram-Me as mãos e os pés. Poderia contar todos os Meus ossos; eles Me vêem e Me contemplam. Repartem entre si os Meus vestidos, e lançam sortes sobre a Minha túnica”. Salmos 22:16-18. A profecia quanto a Suas vestes cumpriu-se sem conselho nem interferência de amigos ou inimigos do Crucificado. Aos soldados que O puseram na cruz, foram dados os Seus vestidos. Cristo ouviu a altercação dos homens, enquanto os dividiam entre si. Sua túnica era tecida de alto a baixo, sem costuras, e disseram: “Não a rasguemos, mas lancemos sorte sobre ela, para ver de quem será.” {DTN 528.1}
Em outra profecia declarou o Salvador: “Afrontas Me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo. Esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei. Deram-Me fel por mantimento, e na Minha sede Me deram a beber vinagre”. Salmos 69:20, 21. Aos que padeciam morte de cruz, era permitido ministrar uma poção entorpecente, para amortecer a sensação de dor. Essa foi oferecida a Jesus; mas, havendo-a provado, recusou-a. Não aceitaria nada que Lhe obscurecesse a mente. Sua fé devia ater-se firmemente a Deus. Essa era Sua única força. Obscurecer a mente era oferecer vantagem a Satanás. {DTN 528.2}
Os inimigos de Jesus descarregaram sobre Ele sua cólera, enquanto pendia da cruz. Sacerdotes, príncipes e escribas uniram-se à turba em zombar do moribundo Salvador. No batismo e na transfiguração, a voz de Deus se fizera ouvir, proclamando Cristo Seu Filho. Outra vez justamente antes de ser Cristo traído, o Pai falara, testificando de Sua divindade. Agora, porém, muda permanecia a voz do Céu. Nenhum testemunho se ouviu em favor de Cristo. Sozinho sofreu maus-tratos e escárnios da parte dos ímpios. {DTN 528.3}
“Se és Filho de Deus”, diziam, “desce da cruz.” “Salve-Se a Si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus.” No deserto da tentação, declarara Satanás: “Se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães.” “Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te de aqui abaixo” — do pináculo do templo. Mateus 4:3, 6. E Satanás com seus anjos, em forma humana, achava-se presente ao pé da cruz. O arquiinimigo e suas hostes cooperavam com os sacerdotes e príncipes. Os mestres do povo haviam estimulado a turba ignorante a pronunciar julgamento contra um homem a quem muitos dentre ela nem sequer tinham visto, até serem solicitados a dar testemunho contra Ele. Sacerdotes, príncipes, fariseus e a endurecida plebe coligavam-se num satânico frenesi. Os guias religiosos se uniram a Satanás e a seus anjos. Cumpriam-lhes as ordens. {DTN 528.4}
Jesus, sofrendo e moribundo, ouvia cada palavra, ao declararem os sacerdotes: “Salvou os outros, e não pode salvar-Se a Si mesmo. O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que O vejamos e acreditemos”. Mateus 27:42, 43. Cristo poderia haver descido da cruz. Mas foi porque Ele não salvou a Si mesmo que o pecador tem esperança de perdão e favor para com Deus. {DTN 529.1}
Em seu escárnio do Salvador, os que professavam ser os expoentes das profecias repetiam as próprias palavras que a inspiração predissera que profeririam nessa ocasião. Em sua cegueira, no entanto, não viam estar cumprindo a profecia. Aqueles que, em chacota, diziam as palavras: “Confiou em Deus; livre-O agora, se O ama; porque disse: Sou Filho de Deus”, mal pensavam que seu testemunho havia de ressoar através dos séculos. Mas se bem que proferidas em escárnio, essas palavras levaram homens a pesquisar as Escrituras como nunca antes tinham feito. Sábios ouviram, examinaram, ponderaram e oraram. Alguns houve que não descansaram enquanto não viram, comparando texto com texto, o sentido da missão de Cristo. Nunca houvera, anteriormente, tão geral conhecimento de Jesus como quando Ele pendia do madeiro. No coração de muitos que contemplavam a cena da crucifixão e ouviram as palavras de Cristo, estava resplandecendo a luz da verdade. {DTN 529.2}
A Cristo, em Sua agonia na cruz, sobreveio um raio de conforto. Foi a súplica do ladrão arrependido. Ambos os homens que estavam crucificados com Jesus, a princípio O injuriaram; e um deles, sob os sofrimentos, tornara-se cada vez mais desesperado e provocante. Assim não foi, porém, com o companheiro. Este não era um criminoso endurecido; extraviara-se por más companhias, mas era menos culpado que muitos dos que ali se achavam ao pé da cruz, injuriando o Salvador. Vira e ouvira Jesus, e ficara convencido, por Seus ensinos, mas dEle fora desviado pelos sacerdotes e príncipes. Procurando abafar a convicção, imergira mais e mais fundo no pecado, até que foi preso, julgado como criminoso e condenado a morrer na cruz. No tribunal e a caminho para o Calvário, estivera em companhia de Jesus. Ouvira Pilatos declarar: “Não acho nEle crime algum”. João 19:4. Notara-Lhe o porte divino, e Seu piedoso perdão aos que O atormentavam. Na cruz, vê os muitos grandes doutores religiosos estenderem desdenhosamente a língua, e ridicularizarem o Senhor Jesus. Vê o menear das cabeças. Ouve a ultrajante linguagem repetida por seu companheiro de culpa. “Se Tu és o Cristo, salva-Te a Ti mesmo, e a nós”. Lucas 23:39. Ouve, entre os transeuntes, muitos a defenderem Jesus. Ouve-os repetindo-Lhe as palavras, narrando-Lhe as obras. Volve-lhe a convicção de que Este é o Cristo. Voltando-se para seu companheiro no crime, diz: “Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?” Lucas 23:40. Os ladrões moribundos não mais têm a temer os homens. Mas um deles é assaltado pela convicção de que há um Deus a temer, um futuro a fazê-lo tremer. E agora, todo poluído pelo pecado como se acha, a história de sua vida está a findar. “E nós, na verdade, com justiça”, geme ele, “porque recebemos o que nossos feitos mereciam; mas Este nenhum mal fez”. Lucas 23:41. {DTN 529.3}
Não há questão agora. Não há dúvidas, nem censuras também. Quando condenado por seu crime, o ladrão ficara possuído de desânimo e desespero; mas pensamentos estranhos, ternos, surgem agora. Evoca tudo quanto ouvira de Jesus, como Ele curara os doentes e perdoara os pecados. Ouvira as palavras dos que nEle criam e O seguiram em pranto. Vira e lera o título por sobre a cabeça do Salvador. Ouvira-o repetido pelos que passavam, alguns com lábios tristes e trêmulos, outros com gracejos e zombarias. O Espírito Santo ilumina-lhe a mente, e pouco a pouco se liga a cadeia das provas. Em Jesus ferido, zombado e pendente da cruz, vê o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Num misto de esperança e de agonia em sua voz, a desamparada, moribunda alma atira-se sobre o agonizante Salvador. “Senhor, lembra-Te de mim, quando vieres no Teu reino” (Lucas 23:42, Trad. Trinitariana). {DTN 530.1}
A resposta veio pronta. Suave e melodioso o acento, cheias de amor, de compaixão e de poder as palavras: “Na verdade te digo hoje, que serás comigo no Paraíso”. Lucas 23:43. {DTN 530.2}
Por longas horas de agonia, injúrias e escárnios caíram aos ouvidos de Jesus. Pendente da cruz, ouve ainda em volta o som das zombarias e maldições. Coração anelante, estivera atento a ver se ouvia alguma expressão de fé da parte dos discípulos. E ouvira apenas as lamentosas palavras: “Nós esperávamos que fosse Ele o que remisse a Israel”. Lucas 24:21. Quão grata foi, pois, ao Salvador a declaração de fé e amor do ladrão prestes a morrer! Enquanto os dirigentes judeus negam a Jesus e Seus próprios discípulos duvidam de Sua divindade, o pobre ladrão, no limiar da eternidade, Lhe chama Senhor. Muitos estavam dispostos a chamá-Lo Senhor quando operava milagres, e depois de haver ressurgido do sepulcro; ninguém, no entanto, O reconheceu enquanto, moribundo, pendia da cruz, a não ser o ladrão arrependido, salvo à hora undécima. {DTN 530.3}
Os espectadores ouviram as palavras do ladrão, quando chamou Senhor a Jesus. O tom do arrependido despertou-lhes a atenção. Aqueles que, ao pé da cruz, questionaram pelas vestes de Cristo e lançaram sortes sobre a túnica, pararam para escutar. Emudeceram as vozes iradas. Com a respiração suspensa, olhavam para Cristo e esperaram a resposta daqueles lábios já quase sem vida. {DTN 530.4}
Ao proferir Ele as palavras de promessa, brilhante, vívido clarão penetrou a escura nuvem que parecia envolver a cruz. Ao ladrão contrito sobreveio a perfeita paz da aceitação de Deus. Em Sua humilhação, era Cristo glorificado. Aquele que, a todos os outros olhos, parecia vencido, era o Vencedor. Foi reconhecido como O que leva os pecados. Os homens podem exercer poder sobre Seu corpo humano. Podem-Lhe ferir as santas fontes com a coroa de espinhos. Podem despojá-Lo das vestes e contender sobre a divisão das mesmas. Não O podem, porém, privar do poder de perdoar pecados. Morrendo, dá testemunho em favor de Sua divindade e da glória do Pai. Seu ouvido não está agravado para que não possa ouvir, nem sua mão encurtada para não poder salvar. É Seu direito salvar perfeitamente a todos quantos se chegam a Deus por Ele. {DTN 530.5}
Na verdade te digo hoje, que serás comigo no Paraíso. Cristo não prometeu que o ladrão estaria com Ele no Paraíso naquele dia. Ele próprio não foi naquele dia para o Paraíso. Dormiu no sepulcro e, na manhã da ressurreição, disse: “Ainda não subi para Meu Pai”. João 20:17. Mas no dia da crucifixão, o dia da aparente derrota e treva, foi feita a promessa. “Hoje”, enquanto morria na cruz como malfeitor, Cristo dava ao pobre pecador a certeza: “Tu estarás comigo no Paraíso.” {DTN 531.1}
Os ladrões crucificados com Jesus foram colocados “um de cada lado, e Jesus no meio”. Isso foi feito por instrução dos sacerdotes e principais. A posição de Cristo entre os ladrões indicava ser Ele o maior criminoso dos três. Assim se cumpriu a escritura: “Foi contado com os transgressores”. Isaías 53:12. A inteira significação de seu ato, porém, não viram os sacerdotes. Como Jesus crucificado com os ladrões, foi posto “no meio”, assim foi Sua cruz colocada no meio de um mundo a perecer no pecado. E as perdoadoras palavras dirigidas ao ladrão arrependido, fizeram brilhar uma luz que brilhará até aos remotos cantos da Terra. {DTN 531.2}
Com espanto contemplavam os anjos o infinito amor de Jesus, que, sofrendo a mais intensa agonia física e mental, pensava apenas nos outros e animava a arrependida alma a crer. Em Sua humilhação, dirigira-Se, como profeta, às filhas de Jerusalém; como sacerdote e advogado, intercedera com o Pai pelo perdão de Seus assassinos; como amorável Salvador perdoara os pecados do arrependido ladrão. {DTN 531.3}
Enquanto o olhar de Jesus vagueava pela multidão que O cercava, uma figura Lhe prendeu a atenção. Ao pé da cruz se achava Sua mãe, apoiada pelo discípulo João. Ela não podia suportar permanecer longe de seu Filho; e João, sabendo que o fim se aproximava, trouxera-a de novo para perto da cruz. Na hora de Sua morte, Cristo lembrou-Se de Sua mãe. Olhando-lhe o rosto abatido pela dor, e depois a João, disse, dirigindo-Se a ela: “Mulher, eis aí o teu filho”; e depois a João: “Eis aí tua mãe”. João 19:26, 27. João entendeu as palavras de Cristo, e aceitou o encargo. Levou imediatamente Maria para sua casa, e daquela hora em diante dela cuidou ternamente. Ó piedoso, amorável Salvador! por entre toda a Sua dor física e mental angústia, teve solícito cuidado para com Sua mãe! Não possuía dinheiro com que lhe provesse o conforto; achava-Se, porém, entronizado na alma de João, e entregou-lhe Sua mãe como precioso legado. Assim providenciou para ela aquilo de que mais necessitava — a terna simpatia de alguém que a amava porque ela amava a Jesus. E, acolhendo-a como santo legado, estava João recebendo grande bênção. Ela lhe era uma contínua recordação de seu querido Mestre. {DTN 531.4}
O perfeito exemplo do amor filial de Cristo resplandece com não esmaecido brilho por entre a neblina dos séculos. Durante cerca de trinta anos Jesus, por Sua labuta diária, ajudara nas responsabilidades domésticas. E agora, mesmo em Sua última agonia, Se lembra de providenciar em favor de Sua mãe viúva e aflita. O mesmo espírito se manifestará em todo discípulo de nosso Senhor. Os que seguem a Cristo sentirão ser uma parte de sua religião respeitar os pais e prover-lhes as necessidades. O pai e a mãe nunca deixarão de receber, do coração em que se abriga o amor de Cristo, solícito cuidado e terna simpatia. {DTN 532.1}
E agora, estava a morrer o Senhor da glória, o Resgate da raça. Entregando a preciosa vida, não foi Cristo sustido por triunfante alegria. Tudo eram opressivas sombras. Não era o temor da morte que O oprimia. Nem a dor e a ignomínia da cruz Lhe causavam a inexprimível angústia. Cristo foi o príncipe dos sofredores; mas Seu sofrimento provinha do senso da malignidade do pecado, o conhecimento de que, mediante a familiaridade com o mal, o homem se tornara cego à enormidade do mesmo. Cristo viu quão profundo é o domínio do pecado no coração humano, quão poucos estariam dispostos a romper com seu poder. Sabia que, sem o auxílio divino, a humanidade devia perecer, e via multidões perecerem ao alcance de abundante auxílio. {DTN 532.2}
Sobre Cristo como nosso substituto e penhor, foi posta a iniqüidade de nós todos. Foi contado como transgressor, a fim de que nos redimisse da condenação da lei. A culpa de todo descendente de Adão pesava-Lhe sobre a alma. A ira de Deus contra o pecado, a terrível manifestação de Seu desagrado por causa da iniqüidade, encheram de consternação a alma de Seu Filho. Toda a Sua vida anunciara Cristo ao mundo caído as boas-novas da misericórdia do Pai, de Seu amor cheio de perdão. A salvação para o maior pecador, fora Seu tema. Mas agora, com o terrível peso de culpas que carrega, não pode ver a face reconciliadora do Pai. O afastamento do semblante divino, do Salvador, nessa hora de suprema angústia, penetrou-Lhe o coração com uma dor que nunca poderá ser bem compreendida pelo homem. Tão grande era essa agonia, que Ele mal sentia a dor física. {DTN 532.3}
Satanás torturava com cruéis tentações o coração de Jesus. O Salvador não podia enxergar para além dos portais do sepulcro. A esperança não Lhe apresentava Sua saída da sepultura como vencedor, nem Lhe falava da aceitação do sacrifício por parte do Pai. Temia que o pecado fosse tão ofensivo a Deus, que Sua separação houvesse de ser eterna. Cristo sentiu a angústia que há de experimentar o pecador quando não mais a misericórdia interceder pela raça culpada. Foi o sentimento do pecado, trazendo a ira divina sobre Ele, como substituto do homem, que tão amargo tornou o cálice que sorveu, e quebrantou o coração do Filho de Deus. {DTN 532.4}
Com assombro presenciara os anjos a desesperada agonia do Salvador. As hostes do Céu velaram o rosto, do terrível espetáculo. A inanimada natureza exprimiu sua simpatia para com seu insultado e moribundo Autor. O Sol recusou contemplar a espantosa cena. Seus raios plenos, brilhantes, iluminavam a Terra ao meio-dia, quando, de súbito, pareceu apagar-se. Completa escuridão, qual um sudário, envolveu a cruz. “Houve trevas em toda a Terra até à hora nona”. Marcos 15:33. Não houve eclipse ou outra qualquer causa natural para essa escuridão, tão espessa como a da meia-noite sem luar nem estrelas. Foi miraculoso testemunho dado por Deus, para que se pudesse confirmar a fé das vindouras gerações. {DTN 533.1}
Naquela densa treva ocultava-Se a presença de Deus. Ele faz da treva o Seu pavilhão, e esconde Sua glória dos olhos humanos. Deus e Seus santos anjos estavam ao pé da cruz. O Pai estava com o Filho. Sua presença, no entanto, não foi revelada. Houvesse Sua glória irrompido da nuvem, e todo espectador humano teria sido morto. E naquela tremenda hora não devia Cristo ser confortado com a presença do Pai. Pisou sozinho o lagar, e dos povos nenhum havia com Ele. {DTN 533.2}
Na espessa escuridão, velou Deus a final agonia humana de Seu Filho. Todos quantos viram Cristo em Seu sofrimento, convenceram-se de Sua divindade. Aquele rosto, uma vez contemplado pela humanidade, não seria nunca mais esquecido. Como a fisionomia de Caim lhe exprimia a culpa de homicida, assim o semblante de Cristo revelava inocência, serenidade, benevolência — a imagem de Deus. Mas Seus acusadores não queriam dar atenção ao cunho celestial. Durante longas horas de agonia fora Cristo contemplado pela escarnecedora multidão. Agora, ocultou-O misericordiosamente o manto divino. {DTN 533.3}
Parecia haver baixado sobre o Calvário um silêncio sepulcral. Inominável terror apoderou-se da multidão que circundava a cruz. As maldições e injúrias cessaram a meio das frases iniciadas. Homens, mulheres e crianças caíram prostrados por terra. De quando em quando irradiavam da nuvem vívidos clarões, mostrando a cruz e o crucificado Redentor. Sacerdotes, príncipes, escribas, executores bem como a turba, todos pensavam haver chegado o momento de sua retribuição. Depois de algum tempo, murmuravam alguns que Jesus desceria agora da cruz. Tentavam outros, às apalpadelas, achar o caminho de volta para a cidade, batendo no peito e lamentando de temor. {DTN 533.4}
À hora nona, ergueu-se a treva de sobre o povo, mas continuou a envolver o Salvador. Era um símbolo da agonia e do horror que pesavam sobre o coração dEle. Olho algum podia penetrar a escuridão que rodeava a cruz, e ninguém podia sondar a sombra mais profunda ainda que envolvia a sofredora alma de Cristo. Os furiosos relâmpagos pareciam dirigidos contra Ele ali pendente da cruz. Então Jesus clamou com grande voz: “Eli, Eli, lamá sabactâni? que traduzido, é: Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” Marcos 15:34. Ao baixarem sobre o Salvador as trevas exteriores, muitas vozes exclamaram: “A vingança do Céu está sobre Ele. Os raios da ira divina são contra Ele lançados, porque pretendeu ser Filho de Deus.” Muitos dos que nEle criam, ouviram-Lhe o desesperado grito. E abandonou-os a esperança. Se Deus desamparara a Jesus, em quem podiam confiar Seus seguidores? {DTN 534.1}
Quando as trevas se ergueram do opresso espírito de Cristo, reavivou-se-Lhe o sentido do sofrimento físico, e disse: “Tenho sede”. João 19:28. Um dos soldados romanos, tocado de piedade, ao contemplar os lábios ressequidos, tomou uma esponja, numa haste de hissopo, e, imergindo-a numa vasilha de vinagre, ofereceu-a a Jesus. Mas os sacerdotes zombavam-Lhe da agonia. Enquanto as trevas cobriam a Terra, encheram-se de temor; dissipado este, porém voltou-lhes o medo de que Jesus lhes escapasse ainda. Interpretaram mal Suas palavras: “Eli, Eli, lamá sabactâni”. Mateus 27:46. Com amargo desprezo e escárnio, disseram: “Este chama por Elias.” Recusaram a última oportunidade de aliviar-Lhe os sofrimentos. “Deixa”, disseram, “vejamos se Elias vem livrá-Lo”. Mateus 27:47, 49. {DTN 534.2}
O imaculado Filho de Deus pendia da cruz, a carne lacerada pelos açoites; aquelas mãos tantas vezes estendidas para abençoar, pregadas ao lenho; aqueles pés tão incansáveis em serviço de amor, cravados no madeiro; a régia cabeça ferida pela coroa de espinhos; aqueles trêmulos lábios entreabertos para deixar escapar um grito de dor. E tudo quanto sofreu — as gotas de sangue a Lhe correr da fronte, das mãos e dos pés, a agonia que Lhe atormentou o corpo, e a indizível angústia que Lhe encheu a alma ao ocultar-se dEle a face do Pai — tudo fala a cada filho da família humana, declarando: É por ti que o Filho de Deus consente em carregar esse fardo de culpa; por ti Ele destrói o domínio da morte, e abre as portas do Paraíso. Aquele que impôs calma às ondas revoltas, e caminhou por sobre as espumejantes vagas, que fez tremerem os demônios e fugir a doença, que abriu os olhos cegos e chamou os mortos à vida — ofereceu-Se na cruz em sacrifício, e tudo isso por amor de ti. Ele, o que leva sobre Si os pecados, sofre a ira da justiça divina, e torna-Se mesmo pecado por amor de ti. {DTN 534.3}
Silenciosos, aguardavam os espectadores o fim da terrível cena. O Sol saíra, mas a cruz continuava circundada de trevas. Sacerdotes e príncipes olhavam em direção de Jerusalém; e eis que a espessa nuvem pousara sobre a cidade e as planícies da Judéia. O Sol da Justiça, a Luz do mundo, retirava Seus raios da outrora favorecida cidade de Jerusalém. Os terríveis relâmpagos da ira divina dirigiam-se contra a malfadada cidade. {DTN 534.4}
De repente, ergueu-se de sobre a cruz a sombra, e em tons claros, como de trombeta, tons que pareciam ressoar por toda a criação, bradou Jesus: “Está consumado”. João 19:30. “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito”. Lucas 23:46. Uma luz envolveu a cruz, e o rosto do Salvador brilhou com uma glória semelhante à do Sol. Pendendo então a cabeça sobre o peito, expirou. {DTN 535.1}
Em meio da horrível escuridão, aparentemente abandonado por Deus, sofrera Cristo as piores conseqüências da miséria humana. Durante aquelas horas pavorosas, apoiara-Se às provas que anteriormente Lhe haviam sido dadas quanto à aceitação de Seu Pai. Estava familiarizado com o caráter de Deus; compreendia-Lhe a justiça, a misericórdia e o grande amor. Descansava, pela fé nAquele a quem Se deleitara sempre em obedecer. E à medida que em submissão Se confiava a Deus, o sentimento da perda do favor do Pai se desvanecia. Pela fé, saiu Cristo vitorioso. {DTN 535.2}
Jamais testemunhara a Terra uma cena assim. A multidão permanecia paralisada e, respiração suspensa, fitava o Salvador. Baixaram novamente as trevas sobre a Terra, e um surdo ruído, como de forte trovão, se fez ouvir. Seguiu-se violento terremoto. As pessoas foram atiradas umas sobre as outras, amontoadamente. Estabeleceu-se a mais completa desordem e consternação. Partiram-se ao meio os rochedos nas montanhas vizinhas, rolando fragorosamente para as planícies. Fenderam-se sepulcros, sendo os mortos atirados para fora das covas. Dir-se-ia estar a criação desfazendo-se em átomos. Sacerdotes, príncipes, soldados, executores e povo, mudos de terror, jaziam prostrados por terra. {DTN 535.3}
Ao irromper dos lábios de Cristo o grande brado: “Está consumado” (João 19:30), oficiavam os sacerdotes no templo. Era a hora do sacrifício da tarde. O cordeiro, que representava Cristo, fora levado para ser morto. Trajando o significativo e belo vestuário, estava o sacerdote com o cutelo erguido, qual Abraão quando prestes a matar o filho. Vivamente interessado, o povo acompanhava a cena. Mas eis que a Terra treme e vacila; pois o próprio Senhor Se aproxima. Com ruído rompe-se de alto a baixo o véu interior do templo, rasgado por mão invisível, expondo aos olhares da multidão um lugar antes pleno da presença divina. Ali habitara o shekinah. Ali manifestara Deus Sua glória sobre o propiciatório. Ninguém, senão o sumo sacerdote, jamais erguera o véu que separava esse compartimento do resto do templo. Nele penetrava uma vez por ano, para fazer expiação pelos pecados do povo. Mas eis que esse véu é rasgado em dois. O santíssimo do santuário terrestre não mais é um lugar sagrado. {DTN 535.4}
Tudo é terror e confusão. O sacerdote está para matar a vítima; mas o cutelo cai-lhe da mão paralisada, e o cordeiro escapa. O tipo encontrara o antítipo por ocasião da morte do Filho de Deus. Foi feito o grande sacrifício. Acha-se aberto o caminho para o santíssimo. Um novo, vivo caminho está para todos preparado. Não mais necessita a pecadora, aflita humanidade esperar a chegada do sumo sacerdote. Daí em diante, devia o Salvador oficiar como Sacerdote e Advogado no Céu dos Céus. Era como se uma voz viva houvesse dito aos adoradores: Agora têm fim todos os sacrifícios e ofertas pelo pecado. O Filho de Deus veio, segundo a Sua palavra: “Eis aqui venho (no princípio do Livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade”. Hebreus 10:7. “Por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção”. Hebreus 9:12. {DTN 535.5}
Capítulo 79 — “Está consumado”
Cristo não entregou Sua vida antes que realizasse a obra que viera fazer, e ao exalar o espírito, exclamou: “Está consumado”. João 19:30. Ganhara a batalha. Sua destra e Seu santo braço Lhe alcançaram a vitória. Como Vencedor, firmou Sua bandeira nas alturas eternas. Que alegria entre os anjos! Todo o Céu triunfou na vitória do Salvador. Satanás foi derrotado, e sabia que seu reino estava perdido. {DTN 537.1}
Para os anjos e os mundos não caídos, o brado: “Está consumado” teve profunda significação. Fora em seu benefício, bem como no nosso, que se operara a grande obra da redenção. Juntamente conosco, compartilham eles os frutos da vitória de Cristo. {DTN 537.2}
Até à morte de Jesus, o caráter de Satanás não fora ainda claramente revelado aos anjos e mundos não caídos. O arqui-apóstata se revestira por tal forma de engano, que mesmo os santos seres não lhe compreenderam os princípios. Não viram claramente a natureza de sua rebelião. {DTN 537.3}
Era um ser admirável de poder e glória o que se pusera em oposição a Deus. De Lúcifer, diz o Senhor: “Tu és o aferidor da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura”.Ezequiel 28:12. Lúcifer fora o querubim cobridor. Estivera à luz da presença divina. Fora o mais elevado de todos os seres criados, e o primeiro em revelar ao Universo os desígnios divinos. Depois de pecar, seu poder de enganar tornou-se consumado, e mais difícil o descobrir-lhe o caráter, em virtude da exaltada posição que mantivera junto do Pai. {DTN 537.4}
Deus poderia haver destruído Satanás e seus adeptos tão facilmente, como se pode atirar um seixo à terra; assim não fez, porém. A rebelião não seria vencida pela força. Poder compulsor só se encontra sob o governo de Satanás. Os princípios do Senhor não são dessa ordem. Sua autoridade baseia-se na bondade, na misericórdia e no amor; e a apresentação desses princípios é o meio a ser empregado. O governo de Deus é moral, e verdade e amor devem ser o poder predominante. {DTN 537.5}
Era desígnio divino colocar as coisas numa base de segurança eterna, sendo decidido nos conselhos celestiais que se concedesse tempo a Satanás para desenvolver os seus princípios, o fundamento de seu sistema de governo. Pretendera serem os mesmos superiores aos princípios divinos. Deu-se tempo para que os princípios de Satanás operassem, a fim de serem vistos pelo Universo celestial. {DTN 537.6}
Satanás induziu o homem ao pecado, e o plano de redenção entrou em vigor. Por quatro mil anos, esteve Cristo trabalhando pelo reerguimento do homem, e Satanás por sua ruína e degradação. E o Universo celestial contemplava tudo. {DTN 538.1}
Ao vir Jesus ao mundo, o poder de Satanás voltou-se contra Ele. Desde o tempo em que aqui apareceu, como a Criancinha de Belém, manobrou o usurpador para promover Sua destruição. Por todos os meios possíveis, procurou impedir Jesus de desenvolver infância perfeita, imaculada varonilidade, um ministério santo e sacrifício irrepreensível. Foi derrotado, porém. Não pôde levar Jesus a pecar. Não O conseguiu desanimar, ou desviá-Lo da obra para cuja realização viera ao mundo. Do deserto ao Calvário, foi açoitado pela tempestade da ira de Satanás, mas quanto mais impiedosa era ela, tanto mais firme Se apegava o Filho de Deus à mão de Seu Pai, avançando na ensangüentada vereda. Todos os esforços de Satanás para oprimi-Lo e vencê-Lo, só faziam ressaltar, mais nitidamente, a pureza de Seu caráter. {DTN 538.2}
Todo o Céu, bem como os não caídos mundos, foram testemunhas do conflito. Com que profundo interesse seguiram as cenas finais da luta! Viram o Salvador penetrar no horto do Getsêmani, a alma vergando sob o horror de uma grande treva. Ouviram-Lhe o doloroso grito: “Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice”. Mateus 26:39. À medida que dEle era retirada a presença do Pai, viram-nO aflito por uma dor mais atroz que a da grande e última luta com a morte. Suor de sangue irrompeu-Lhe dos poros, gotejando no chão. Por três vezes foi-Lhe arrancada dos lábios a súplica de livramento. Não mais pôde o Céu suportar a cena, e um mensageiro de conforto foi enviado ao Filho de Deus. {DTN 538.3}
O Céu viu a Vítima entregue às mãos da turba homicida, e, com zombaria e violência, impelida à pressa de um a outro tribunal. Ouviu os escárnios dos perseguidores por causa de Seu humilde nascimento. Ouviu a negação por entre juras e imprecações da parte de um de Seus mais amados discípulos. Viu a frenética obra de Satanás, e seu poder sobre o coração dos homens. Oh! terrível cena! o Salvador aprisionado à meia-noite no Getsêmani, arrastado daqui para ali, de um palácio a um tribunal, citado duas vezes perante sacerdotes, duas perante o Sinédrio, duas perante Pilatos, e uma diante de Herodes, escarnecido, açoitado, condenado e conduzido fora para ser crucificado, carregando o pesado fardo da cruz, por entre os lamentos das filhas de Jerusalém e as zombarias da gentalha! {DTN 538.4}
Com dor e espanto contemplou o Céu a Cristo pendente da cruz, o sangue a correr-Lhe das fontes feridas, tendo na testa o sanguinolento suor. O sangue caía-Lhe, gota a gota, das mãos e dos pés, sobre a rocha perfurada para encaixar a cruz. As feridas abertas pelos cravos aumentavam ao peso que o corpo fazia sobre as mãos. Sua difícil respiração tornava-se mais rápida e profunda, à medida que Sua alma arquejava sob o fardo dos pecados do mundo. Todo o Céu se encheu de assombro quando, em meio de Seus terríveis sofrimentos, Cristo ergueu a oração: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Lucas 23:34. E, no entanto, ali estavam homens formados à imagem de Deus, unidos para esmagar a vida de Seu unigênito Filho. Que cena para o universo celeste! {DTN 538.5}
Os principados e os poderes das trevas estavam congregados em torno da cruz, lançando no coração dos homens a diabólica sombra de incredulidade. Quando Deus criou esses seres para estar diante de seu trono, eram belos e gloriosos. Sua formosura e santidade estavam em harmonia com a exaltada posição que ocupavam. Enriquecidos com a sabedoria de Deus, cingiam-se com a armadura celestial. Eram os ministros de Jeová. Quem poderia, no entanto, reconhecer nos anjos caídos os gloriosos serafins que outrora ministravam nas cortes celestiais? {DTN 539.1}
Instrumentos satânicos coligaram-se com homens maus em levar o povo a crer que Cristo era o maior dos pecadores, e torná-Lo objeto de abominação. Os que escarneciam de Cristo, enquanto pendia da cruz, estavam possuídos do espírito do primeiro grande rebelde. Ele os enchia de vis e aborrecíveis expressões. Inspirava-lhes as zombarias. Com tudo isso, porém, nada ganhou. {DTN 539.2}
Houvesse-se podido achar um só pecado em Cristo, tivesse Ele num particular que fosse cedido a Satanás para escapar à horrível tortura, e o inimigo de Deus e do homem teria triunfado. Cristo inclinou a cabeça e expirou, mas manteve firme a Sua fé em Deus, e a Sua submissão a Ele. “E ouvi uma grande voz no Céu, que dizia: Agora chegada está a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do Seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derribado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite”. Apocalipse 12:10. {DTN 539.3}
Satanás viu que estava desmascarado. Sua administração foi exposta perante os anjos não caídos e o Universo celestial. Revelara-se um homicida. Derramando o sangue do Filho de Deus, desarraigou-se Satanás das simpatias dos seres celestiais. Daí em diante sua obra seria restrita. Qualquer que fosse a atitude que tomasse, não mais podia esperar os anjos ao virem das cortes celestiais, nem perante eles acusar os irmãos de Cristo de terem vestes de trevas e contaminação de pecado. Estavam rotos os últimos laços de simpatia entre Satanás e o mundo celestial. {DTN 539.4}
Todavia, Satanás não foi então destruído. Os anjos não perceberam, nem mesmo aí, tudo quanto se achava envolvido no grande conflito. Os princípios em jogo deviam ser mais plenamente revelados. E por amor do homem, devia continuar a existência de Satanás. O homem, bem como os anjos, devia ver o contraste entre o Príncipe da Luz e o das trevas. Cumpria-lhes escolher a quem servir. {DTN 539.5}
No início do grande conflito, declarara Satanás que a lei divina não podia ser obedecida, que a justiça era incompatível com a misericórdia, e que, fosse a lei violada, impossível seria ao pecador ser perdoado. Cada pecado devia receber seu castigo, argumentava Satanás; e se Deus abrandasse o castigo do pecado, não seria um Deus de verdade e justiça. Quando o homem violou a lei divina, e Lhe desprezou a vontade, Satanás exultou. Estava provado, declarou, que a lei não podia ser obedecida; o homem não podia ser perdoado. Por haver sido banido do Céu, depois da rebelião, pretendia que a raça humana devesse ser para sempre excluída do favor divino. O Senhor não podia ser justo, argumentava, e ainda mostrar misericórdia ao pecador. {DTN 539.6}
Mas mesmo como pecador, achava-se o homem, para com Deus, em posição diversa da de Satanás. Lúcifer pecara, no Céu, em face da glória divina. A ele, como a nenhum outro ser criado, se revelou o amor de Deus. Compreendendo o caráter do Senhor, conhecendo-Lhe a bondade, preferiu Satanás seguir sua própria vontade independente e egoísta. Essa escolha foi decisiva. Nada mais havia que Deus pudesse fazer para o salvar. O homem, porém, foi enganado; obscureceu-se-lhe o espírito pelo sofisma de Satanás. A altura e a profundidade do amor divino, não as conhecia o homem. Para ele, havia esperança no conhecimento do amor de Deus. Contemplando-Lhe o caráter, podia ser novamente atraído para Ele. {DTN 540.1}
Por meio de Jesus, foi a misericórdia divina manifesta aos homens; a misericórdia, no entanto, não pôs de parte a justiça. A lei revela os atributos do caráter de Deus, e nem um jota ou til da mesma se podia mudar, para ir ao encontro do homem em seu estado caído. Deus não mudou Sua lei, mas sacrificou-Se em Cristo, para redenção do homem. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo”. 2 Coríntios 5:19. {DTN 540.2}
A lei requer justiça — vida justa, caráter perfeito; e isso não tem o homem para dar. Não pode satisfazer as reivindicações da santa lei divina. Mas Cristo, vindo à Terra como homem, viveu vida santa, e desenvolveu caráter perfeito. Estes oferece Ele como dom gratuito a todos quantos o queiram receber. Sua vida substitui a dos homens. Assim obtêm remissão de pecados passados, mediante a paciência de Deus. Mais que isso, Cristo lhes comunica os atributos divinos. Forma o caráter humano segundo a semelhança do caráter de Deus, uma esplêndida estrutura de força e beleza espirituais. Assim, a própria justiça da lei se cumpre no crente em Cristo. Deus pode ser “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus”.Romanos 3:26. {DTN 540.3}
O amor de Deus tem-se expressado tanto em Sua justiça como em Sua misericórdia. A justiça é o fundamento de Seu trono, e o fruto de Seu amor. Era o desígnio de Satanás divorciar a misericórdia da verdade e da justiça. Buscou provar que a justiça da lei divina é um inimigo da paz. Mas Cristo mostrou que, no plano divino, elas estão indissoluvelmente unidas; uma não pode existir sem a outra. “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram”. Salmos 85:10. {DTN 540.4}
Por Sua vida e morte, provou Cristo que a justiça divina não destrói a misericórdia, mas que o pecado pode ser perdoado, e que a lei é justa, sendo possível obedecer-lhe perfeitamente. As acusações de Satanás foram refutadas. Deus dera ao homem inequívoca prova de amor. {DTN 541.1}
Outro engano devia ser então apresentado. Satanás declarou que a misericórdia destruía a justiça, que a morte de Cristo anulava a lei do Pai. Fosse possível ser a lei mudada ou anulada, então não era necessário Cristo ter morrido. Anular a lei, porém, seria imortalizar a transgressão e colocar o mundo sob o domínio de Satanás. Foi porque a lei é imutável, porque o homem só se pode salvar mediante a obediência a seus preceitos, que Jesus foi erguido na cruz. Todavia, os próprios meios por que Cristo estabeleceu a lei, foram apresentados por Satanás como destruindo-a. A esse respeito sobrevirá o último conflito da grande luta entre Cristo e Satanás. {DTN 541.2}
O ser defeituosa a lei pronunciada pela própria voz divina, o haverem sido certas especificações postas à margem, eis a pretensão apresentada agora por Satanás. É o último grande engano que ele há de trazer sobre o mundo. Não necessita atacar toda a lei; se pode levar os homens a desrespeitar um só preceito, está conseguido seu objetivo. Pois “qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos”. Tiago 2:10. Consentindo em transgredir um preceito, são os homens colocados sob o poder de Satanás. Substituindo a lei divina pela humana, procurará Satanás dominar o mundo. Essa obra é predita em profecia. Acerca do grande poder apóstata que é representante de Satanás, acha-se declarado: “Proferirá palavras contra o Altíssimo e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão”. Daniel 7:25. {DTN 541.3}
Os homens hão de certamente estabelecer suas leis para anular as de Deus. Procurarão obrigar a consciência de outros, e, em seu zelo para impor essas leis, oprimirão os semelhantes. {DTN 541.4}
A guerra contra a lei divina, começada no Céu, continuará até ao fim do tempo. Todo homem será provado. Obediência ou desobediência, eis a questão a ser assentada por todo o mundo. Todos serão chamados a escolher entre a lei divina e as humanas. Aí se traçará a linha divisória. Não existirão senão duas classes. Todo caráter será plenamente desenvolvido; e todos mostrarão se escolheram o lado da lealdade ou o da rebelião. {DTN 541.5}
Então virá o fim. Deus reivindicará Sua lei e livrará Seu povo. Satanás e todos quantos se lhe houverem unido em rebelião serão extirpados. O pecado e os pecadores perecerão, raiz e ramos (Malaquias 4:1) — Satanás a raiz, e seus seguidores os ramos. Cumprir-se-á a palavra dirigida ao príncipe do mal: “Pois que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus, [...] te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas. [...] Em grande espanto te tornaste, e nunca mais serás para sempre”. Ezequiel 28:6-19. Então “o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar, e não aparecerá” (Salmos 37:10); “e serão como se nunca tivessem sido”. Obadias 16. {DTN 541.6}
Isso não é um ato de poder arbitrário da parte de Deus. Os que Lhe rejeitavam a misericórdia ceifarão aquilo que semearam. Deus é a fonte da vida; e quando alguém escolhe o serviço do pecado, separa-se de Deus, desligando-se assim da vida. Ele está “separado da vida de Deus”. Efésios 4:18. Cristo diz: “Todos os que Me aborrecem amam a morte”.Provérbios 8:36. Deus lhe dá existência por algum tempo, a fim de poderem desenvolver seu caráter e revelar seus princípios. Feito isso, receberão os resultados de sua própria escolha. Por uma vida de rebelião, Satanás e todos quantos a ele se unem colocam-se em tanta desarmonia com Deus, que Sua própria presença lhes é um fogo consumidor. A glória dAquele que é amor os destruirá. {DTN 542.1}
Ao princípio do grande conflito, os anjos não entendiam isso. Houvesse sido deixado que Satanás e seus anjos colhessem os plenos frutos de seu pecado, e teriam perecido; mas não se patentearia aos seres celestiais ser isso o inevitável resultado do pecado. Uma dúvida acerca da bondade divina haveria permanecido em seu espírito, qual ruim semente, para produzir seu mortal fruto de pecado e miséria. {DTN 542.2}
Não será, porém, assim, ao findar o grande conflito. Então, havendo-se completado o plano da redenção, o caráter de Deus é revelado a todos os seres inteligentes. Os preceitos de Sua lei são vistos como perfeitos e imutáveis. Então o pecado terá patenteado sua natureza, Satanás o seu caráter. Então o extermínio do pecado reivindicará o amor de Deus, e estabelecerá Sua honra perante um Universo de seres que se deleitam em fazer Sua vontade, e em cujo coração está a Sua lei. {DTN 542.3}
Bem podiam, pois, os anjos se regozijar ao contemplarem a cruz do Salvador; pois embora não compreendessem ainda tudo, sabiam que a destruição do pecado e de Satanás fora para sempre assegurada, que a redenção do homem era certa e que o Universo estava para sempre a salvo. O próprio Cristo compreendeu plenamente os resultados do sacrifício feito no Calvário. A tudo isto olhava Ele quando exclamou na cruz: “Está consumado”. João 19:30. {DTN 542.4}
Capítulo 80 — No sepulcro de José
Jesus descansou, afinal. Findara o longo dia de vergonha e tortura. Ao introduzirem os últimos raios do sol poente o dia do sábado, o Filho de Deus estava em repouso, no sepulcro de José. Concluída Sua obra, as mãos cruzadas em paz, descansava durante as sagradas horas do sábado. {DTN 543.1}
No princípio, o Pai e o Filho repousaram no sábado após Sua obra de criação. Quando “os céus, e a Terra e todo o seu exército foram acabados” (Gênesis 2:1), o Criador e todos os seres celestiais se regozijaram na contemplação da gloriosa cena. “As estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam”. Jó 38:7. Agora Jesus descansava da obra de redenção; e se bem que houvesse dor entre os que O amavam na Terra, reinou contudo alegria no Céu. Gloriosa era aos olhos dos seres celestiais a perspectiva do futuro. Uma criação restaurada, a raça redimida que, havendo vencido o pecado, nunca mais poderia cair — eis o resultado visto por Deus e os anjos, da obra consumada por Cristo. Com esta cena se acha para sempre ligado o dia em que Jesus descansou. Pois Sua “obra é perfeita” (Deuteronômio 32:4); e “tudo quanto Deus faz durará eternamente”. Eclesiastes 3:14. Quando se der a “restauração de todas as coisas, as quais Deus falou por boca dos Seus santos profetas, desde o princípio do mundo” (Atos dos Apóstolos 3:21, Trad. Figueiredo), o sábado da criação, o dia em que Jesus esteve em repouso no sepulcro de José, será ainda um dia de descanso e regozijo. O Céu e a Terra se unirão em louvor, quando, “desde um sábado até ao outro” (Isaías 66:23), as nações dos salvos se inclinarem em jubiloso culto a Deus e o Cordeiro. {DTN 543.2}
Nos acontecimentos finais do dia da crucifixão, foi dada nova prova de cumprimento da profecia, e novo testemunho da divindade de Cristo. Quando a treva se erguera de sobre a cruz, e o Salvador soltara Seu brado agonizante, ouviu-se imediatamente outra voz, dizendo: “Verdadeiramente este era o Filho de Deus”. Lucas 23:47. {DTN 543.3}
Essas palavras não foram murmuradas em segredo. Todos os olhos se volveram a ver de onde provinham. Quem falara? Fora o centurião, o soldado romano. A divina paciência do Salvador, e Sua súbita morte, com o grito de vitória nos lábios, impressionara esse pagão. No ferido, quebrantado corpo pendente da cruz, reconheceu o centurião a figura do Filho de Deus. Não pôde deixar de confessar sua fé. Assim foi novamente dada a prova de que nosso Redentor devia ver o trabalho de Sua alma. No mesmo dia de Sua morte, três homens, diferindo largamente entre si, declaravam sua fé — o que comandava a guarda romana, o que conduzira a cruz do Salvador e o que morrera na cruz, ao Seu lado. {DTN 543.4}
Ao aproximar-se a noite, um silêncio estranho pairou sobre o Calvário. A multidão dispersou-se, e muitos volveram a Jerusalém com espírito bem diverso do que tinham pela manhã. Muitos haviam afluído à crucifixão por curiosidade, e não por ódio para com Cristo. Contudo, acreditavam nas acusações dos sacerdotes e olhavam-nO como malfeitor. Sob uma agitação fora do natural, uniram-se à turba em injuriá-Lo. Quando, porém, a Terra foi envolta em trevas, e se sentiram acusados pela própria consciência, acharam-se culpados de uma grande injustiça. Nenhum gracejo ou riso de escárnio se ouviu em meio daquela terrível escuridão; e, dissipada ela, fizeram o caminho de volta a casa em solene silêncio. Estavam convencidos de que as acusações dos sacerdotes eram falsas, de que Jesus não era nenhum impostor; e algumas semanas mais tarde, quando Pedro pregou no dia de Pentecostes, achavam-se entre os milhares que se converteram a Cristo. {DTN 544.1}
Mas os guias judaicos não se mudaram pelos acontecimentos que haviam presenciado. Não arrefecera seu ódio para com Jesus. A treva que cobria a Terra durante a crucifixão, não era mais densa que a que ainda envolvia o espírito dos sacerdotes e principais. Em Seu nascimento, a estrela conhecera a Cristo e guiara os magos à manjedoura onde jazia. As hostes celestiais conheceram-nO e entoaram-Lhe o louvor por sobre as planícies de Belém. Conhecera-Lhe o mar a voz e obedecera a Sua ordem. A doença e a morte reconheceram-Lhe a autoridade, entregando-Lhe sua presa. O Sol O conhecera e, à vista de Sua agonia e morte, ocultara a face luminosa. Conheceram-nO as rochas, e fenderam-se, fragmentando-se ao Seu brado. A natureza inanimada conhecera a Cristo, e dera testemunho de Sua divindade. Mas os sacerdotes e príncipes de Israel não conheceram o Filho de Deus. {DTN 544.2}
Todavia, esses sacerdotes e príncipes não estavam tranqüilos. Levaram a cabo seu desígnio de matar a Jesus; não experimentavam, no entanto, a sensação da vitória que esperavam. Mesmo na hora de seu aparente triunfo, assaltavam-nos dúvidas quanto ao que viria depois. Ouviram o brado: “Está consumado”. João 19:30. “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito”.Lucas 23:46. Viram as rochas fenderem-se, sentiram o forte terremoto e estavam desassossegados, inquietos. {DTN 544.3}
Tinham invejado a influência de Cristo para com o povo, enquanto vivo; sentiam o mesmo ainda depois de Ele morto. Temiam mais, muito mais o Cristo morto do que haviam temido o Cristo vivo. Receavam que a atenção do povo fosse atraída ainda para os acontecimentos que acompanhavam a crucifixão. Temiam os resultados da obra daquele dia. Por coisa alguma queriam que Seu corpo permanecesse na cruz, durante o sábado. Este se vinha aproximando, e seria uma violação de sua santidade o ficarem os corpos pendentes da cruz. Assim, servindo-se disso como pretexto, os principais judeus solicitaram de Pilatos que se apressasse a morte das vítimas, e seus corpos fossem tirados antes do pôr-do-sol. {DTN 544.4}
Pilatos tinha tão pouca vontade como eles de que o corpo de Jesus ficasse na cruz. Obtido seu consentimento, quebraram as pernas dos dois ladrões para lhes apressar a morte; mas verificaram estar Jesus já morto. Os rudes soldados abrandaram-se pelo que ouviram e testemunharam de Cristo, e abstiveram-se de Lhe quebrar os membros. Assim, na oferta do Cordeiro de Deus cumpriu-se a lei da páscoa: “Dela nada deixarão até à manhã, e dela não quebrarão osso algum; segundo todo o estatuto da páscoa a celebrarão”. Números 9:12. {DTN 545.1}
Os sacerdotes e principais surpreenderam-se ao verificar que Jesus já estava morto. A morte pela cruz constituía processo vagaroso; difícil era determinar quando cessara a vida. Nunca se ouvira que alguém morrera dentro de seis horas de crucifixão. Os sacerdotes desejavam certificar-se da morte de Jesus, e, por sugestão deles, um soldado atirou uma lança ao lado do Salvador. Da ferida assim feita saíram duas copiosas e distintas correntes, uma de sangue, outra de água. Isso foi observado por todos os espectadores, e João declara a ocorrência de maneira bem positiva. Diz ele: “Um dos soldados Lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. E aquele que o viu testificou, e seu testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade o que diz, para que também vós o creiais. Porque isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: Nenhum dos Seus ossos será quebrado. E outra vez diz a Escritura: Verão Aquele que traspassaram”. João 19:34-37. {DTN 545.2}
Depois da ressurreição, os sacerdotes e principais puseram em circulação o boato de que Cristo não morrera na cruz, que apenas desmaiara e revivera posteriormente. Outro boato afirmava que não era um corpo real, de carne e osso, mas a semelhança de um corpo, o que fora posto no sepulcro. A ação dos soldados romanos contesta essas falsidades. Não Lhe quebraram as pernas, porque Ele já estava morto. Para satisfazer os sacerdotes, furaram-Lhe o lado. Não se houvesse já extinguido a vida, e isso teria ocasionado imediatamente a morte. {DTN 545.3}
Não foi, porém, a lança atirada, não foi a dor da crucifixão, que produziu a morte de Jesus. Aquele grito soltado “com grande voz” (Lucas 23:46) no momento da morte, a corrente de sangue e água que Lhe fluiu do lado, demonstravam que Ele morreu pela ruptura do coração. Partiu-se-Lhe o coração pela angústia mental. Foi morto pelo pecado do mundo. {DTN 545.4}
Com a morte de Cristo, pereceram as esperanças dos discípulos. Olhavam-Lhe as cerradas pálpebras e a cabeça pendida, o cabelo empastado de sangue, as mãos e os pés traspassados, e indescritível era a angústia que sentiam. Até ao fim não acreditavam que Ele morresse; mal podiam crer que estivesse realmente morto. Esmagados pela dor, não recordavam Suas palavras, a predizer essa mesma cena. Coisa alguma de quanto dissera lhes dava então conforto. Viam unicamente a cruz e a ensangüentada vítima. O futuro afigurava-se-lhes negro e desesperador. Sua fé em Jesus morrera; nunca, porém, haviam amado tanto a seu Senhor. Nunca Lhe haviam antes assim compreendido o valor, e a necessidade que tinham da presença dEle. {DTN 545.5}
Mesmo morto, o corpo de Cristo era muito precioso aos discípulos. Anelavam fazer-Lhe honroso sepultamento, mas não sabiam como o haviam de realizar. O crime que dera lugar à condenação de Cristo era traição ao governo romano, e as pessoas mortas por essa ofensa deviam ser sepultadas num terreno especialmente provido para os criminosos. O discípulo João, e as mulheres da Galiléia, haviam permanecido ao pé da cruz. Não podiam deixar o corpo de seu Senhor nas insensíveis mãos dos soldados, e enterrado num desonrosa sepultura. No entanto, não o podiam impedir. Não lhes era possível obter favores das autoridades judaicas, e nenhuma influência tinham junto de Pilatos. {DTN 546.1}
Nessa emergência, José de Arimatéia e Nicodemos vieram em auxílio dos discípulos. Ambos eram membros do Sinédrio e tinham relações com Pilatos. Ambos ricos e influentes, decidiram que o corpo de Jesus teria sepultamento condigno. {DTN 546.2}
José foi ousadamente a Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pela primeira vez, ouviu Pilatos que Jesus estava na verdade morto. Contraditórias notícias haviam-lhe chegado aos ouvidos quanto aos acontecimentos concernentes à crucifixão, mas ocultaram-lhe propositalmente a morte de Cristo. Pilatos fora prevenido pelos sacerdotes e principais contra algum engano da parte dos discípulos de Jesus em relação ao Seu corpo. Ouvindo o pedido de José, mandou, portanto, chamar o centurião de serviço junto à cruz, e soube com certeza da morte de Cristo. Dele colheu também a narração das cenas do Calvário, confirmando o testemunho de José. {DTN 546.3}
O pedido de José foi satisfeito. Enquanto João estava aflito quanto ao sepultamento do Mestre, voltou ele com a ordem de Pilatos acerca do corpo de Cristo; e Nicodemos chegou trazendo uma custosa mistura de mirra e aloés, de cerca de cem libras de peso, para Seu embalsamento. Ao mais honrado em Jerusalém, não se poderia haver demonstrado mais respeito na morte. Os discípulos surpreenderam-se de ver esses ricos príncipes tão interessados como eles próprios no sepultamento do Senhor. {DTN 546.4}
Nem José nem Nicodemos haviam aceito abertamente o Salvador enquanto vivera. Sabiam que esse passo os excluiria do Sinédrio, e esperavam protegê-Lo por sua influência nos conselhos. Por algum tempo, pareceu haverem sido bem-sucedidos; mas os astutos sacerdotes, vendo como favoreciam a Cristo, embargaram-lhes os planos. Em sua ausência, fora Jesus condenado e entregue para ser crucificado. Agora, que estava morto, não mais ocultaram sua afeição para com Ele. Enquanto os discípulos temiam mostrar-se abertamente como Seus seguidores, José e Nicodemos foram ousadamente em seu auxílio. O concurso desses homens ricos e honrados era muito oportuno. Era-lhes dado fazer pelo Mestre morto o que se tornava impossível aos pobres discípulos; e sua riqueza e influência os protegia, em grande parte, da malignidade dos sacerdotes e principais. {DTN 546.5}
Delicada e reverentemente, removeram eles do madeiro, com as próprias mãos, o corpo de Jesus. Corriam-lhes lágrimas de compaixão, ao contemplarem-Lhe o ferido e lacerado corpo. José possuía um sepulcro novo, talhado numa rocha. Reservava-o para si mesmo, mas ficava próximo do Calvário, e preparou-o então para Jesus. O corpo, com as especiarias trazidas por Nicodemos, foi cuidadosamente envolto num lençol de linho, e o Redentor levado à sepultura. Aí, os três discípulos compuseram-Lhe os mutilados membros, e cruzaram-Lhe as mãos feridas sobre o inanimado peito. As mulheres galiléias foram ver se se fizera tudo quanto se podia fazer pelo corpo sem vida do amado Mestre. Viram então que fora rolada a pesada pedra para a entrada do sepulcro, e o Salvador deixado a repousar. As mulheres foram as últimas ao pé da cruz, e as últimas também a deixar o sepulcro. Enquanto baixavam as sombras da noite, Maria Madalena e as outras Marias demoravam-se ainda em torno do lugar em que descansava o Senhor, derramando lágrimas de dor pela sorte dAquele a quem amavam. “E, voltando elas [...] no sábado repousaram, conforme o mandamento”. Lucas 23:56. {DTN 547.1}
Aquele seria um inesquecível sábado para os tristes discípulos, e também para os sacerdotes, os príncipes, os escribas e o povo. Ao pôr-do-sol do dia de preparação, soaram as trombetas, anunciando o começo do sábado. A páscoa foi observada como fora por séculos, ao passo que Aquele a quem ela apontava havia sido morto por mãos ímpias e jazia no sepulcro de José. No sábado, os átrios do templo encheram-se de adoradores. O sumo sacerdote, vindo do Gólgota, ali estava, esplendidamente vestido com os trajes sacerdotais. Sacerdotes de alvos turbantes, em plena atividade, cumpriam seus deveres. Mas alguns dos presentes não se achavam tranqüilos, ao oferecer-se pelo pecado o sangue de bezerros e bodes. Não estavam conscientes de que o tipo encontrara o antítipo, de que um infinito sacrifício fora feito pelos pecados do mundo. Não sabiam que não mais havia valor no desempenho do serviço ritual. Mas nunca antes fora aquela cerimônia testemunhada com tão contraditórios sentimentos. As trombetas e os instrumentos de música, bem como as vozes dos cantores, eram tão altos e claros como de costume. Mas dir-se-ia estar tudo possuído de um sentimento de estranheza. Um após outro indagava de um singular acontecimento que ocorrera. Até então o santíssimo fora guardado impenetrável. Mas agora se achava exposto aos olhares de todos. O pesado véu de tapeçaria, feito de puro linho, e belamente trabalhado em ouro, escarlate e púrpura, fora rasgado de alto a baixo. O lugar em que Jeová Se encontrara com o sumo sacerdote, para comunicar Sua glória, o lugar que fora a sagrada câmara de audiência de Deus, jazia aberto a todos os olhos — não mais reconhecido pelo Senhor. Com sombrios pressentimentos ministravam os sacerdotes diante do altar. O haver sido exposto o sagrado mistério do lugar santíssimo os enchia de medo de uma calamidade por vir. {DTN 547.2}
Muitos espíritos ocupavam-se com pensamentos despertados pela cena do Calvário. Da crucifixão à ressurreição, muitos olhos insones estiveram constantemente examinando as profecias, alguns para compreender o inteiro significado da festa que então celebravam, outros para procurar provas de que Jesus não era aquilo que pretendia; outros ainda, corações tristes, buscavam testemunho de que Ele era o verdadeiro Messias. Embora indagassem levados por diferentes motivos, convenceram-se todos da mesma verdade — que se cumprira a profecia nos acontecimentos dos últimos dias, e que o Crucificado era o Redentor do mundo. Muitos que, naquela ocasião, tomaram parte do serviço, nunca mais se uniram aos ritos pascoais. Muitos, mesmo dentre os sacerdotes, ficaram convencidos do verdadeiro caráter de Jesus. Suas pesquisas das profecias não foram em vão, e depois de Sua ressurreição reconheceram-nO como o Filho de Deus. {DTN 548.1}
Nicodemos, ao ver Cristo erguido na cruz, lembrou-se das palavras que Ele proferira à noite, no Monte das Oliveiras: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. João 3:14, 15. Naquele sábado, enquanto Jesus Se achava no sepulcro, Nicodemos teve ensejo de refletir. Uma luz mais clara iluminou-lhe o espírito, e as palavras que Jesus lhe dirigira não continuaram mais um mistério para ele. Sentiu haver perdido muito por não se ter ligado ao Salvador enquanto vivera. Recordou então os acontecimentos do Calvário. A súplica de Cristo por Seus assassinos, e a resposta que dera ao pedido do ladrão moribundo, tocaram a alma do douto membro do conselho. Contemplou de novo o Salvador em Sua agonia; tornou a ouvir o último grito: “Está consumado” (João 19:30), proferido como palavras de um vencedor. Viu novamente a terra cambaleando, os Céus entenebrecidos, o véu rasgado, as rochas fendidas, e sua fé para sempre se estabeleceu. O mesmo acontecimento que destruiu a esperança dos discípulos, convenceu José e Nicodemos da divindade de Jesus. Seus temores foram vencidos pela coragem de uma firme, inabalável fé.{DTN 548.2}
Jamais Cristo atraíra a atenção do povo como quando jazia no túmulo. Como de costume, levaram os doentes e sofredores para os átrios do templo, indagando: Quem nos pode informar acerca de Jesus de Nazaré? Muitos vieram de longe para encontrar Aquele que curava os enfermos e ressuscitava os mortos. De todos os lados, ouvia-se o clamor: Queremos Cristo, o Médico. Nessa ocasião, examinavam os sacerdotes os suspeitos de lepra. Muitos eram forçados a ouvir seu marido, sua esposa ou filhos serem declarados leprosos, e condenados a sair do abrigo de seu lar e de sob o cuidado dos queridos, para advertir os estranhos com o lamentoso grito: “Imundo! imundo!” As mãos amigas de Jesus de Nazaré, que nunca se recusaram ao toque comunicador de cura ao repugnante leproso, achavam-se cruzadas sobre o próprio peito. Os lábios que lhes respondiam às petições com as confortadoras palavras: “Quero, sê limpo” (Mateus 8:3), estavam agora mudos. Muitos apelavam para os principais dos sacerdotes e os príncipes em busca de simpatia e auxílio, mas em vão. Aparentemente, estavam decididos a ter outra vez entre si o Cristo vivo. Com persistente ansiedade, indagavam por Ele. Não queriam ser mandados embora. Mas eram expulsos dos átrios do templo, e foram postados soldados às portas para deter a multidão que chegava com os doentes e moribundos, solicitando entrada. {DTN 548.3}
Os sofredores que tinham ido para ser curados pelo Salvador, sucumbiam ante a decepção. As ruas estavam cheias de lamentos. Os doentes pereciam à míngua do toque vivificante de Jesus. Médicos eram consultados em vão; não havia eficiência como a dAquele que jazia no túmulo de José. {DTN 549.1}
Os lamentos dos que sofriam levaram a milhares à convicção de que se fora do mundo uma grande luz. Sem Cristo, a Terra era sombra e escuridão. Muitos daqueles cuja voz havia avolumado o grito de “Crucifica-O, crucifica-O” (Lucas 23:21), compreendiam agora a calamidade que lhes sobreviera, e teriam com igual veemência clamado — Dá-nos Jesus! — houvesse Ele estado ainda vivo. {DTN 549.2}
Quando o povo soube que Jesus fora morto pelos sacerdotes, fez indagações quanto a Sua morte. Os pormenores de Seu julgamento foram o mais possível conservados em segredo; mas durante o tempo em que Ele permaneceu no sepulcro Seu nome andava em milhares de lábios, e notícias de Seu irrisório julgamento, e da desumanidade dos sacerdotes e principais circulavam por toda parte. Por homens de inteligência foram esses sacerdotes e príncipes convidados a explicar as profecias do Antigo Testamento a respeito do Messias, e enquanto procuravam forjar qualquer falsidade em resposta, ficaram como loucos. As profecias que indicavam os sofrimentos e a morte de Cristo, não podiam explicar, e muitos indagadores se convenceram de que as Escrituras se haviam cumprido. {DTN 549.3}
A vingança que os sacerdotes julgaram seria tão doce, já lhes era amarga. Sabiam que estavam enfrentando a severa censura do povo e que os próprios a quem influenciaram contra Jesus se sentiam agora horrorizados com a vergonhosa obra que haviam feito. Esses sacerdotes procuraram crer que Jesus era enganador; mas em vão. Alguns deles estiveram ao pé da sepultura de Lázaro e viram o morto chamado novamente à vida. Tremeram de temor de que Cristo ressuscitasse por Sua vez, e tornasse a aparecer diante deles. Haviam-nO ouvido declarar que tinha poder para dar Sua vida, e para tornar a tomá-la. Lembravam-se de que dissera: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei”. João 2:19. Judas declarara-lhes as palavras ditas por Ele aos discípulos, durante a última viagem para Jerusalém: “Eis que vamos para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e condená-Lo-ão à morte. E O entregarão aos gentios para que dEle escarneçam, e O açoitem e crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará”. Mateus 20:18, 19. Ao ouvirem essas palavras, zombaram e ridicularizaram. Agora, porém, se lembravam de que até ali se haviam cumprido as predições de Cristo. Afirmara que ressuscitaria ao terceiro dia, e quem poderia dizer que isso também não se cumpriria? Desejavam expulsar esses pensamentos, mas não podiam. Como seu pai, o diabo, creram e tremeram. {DTN 549.4}
Agora, que passara o frenesi da agitação, a imagem de Cristo, malgrado seu, acudia-lhes sempre ao espírito. Viam-nO sereno e sem um queixume perante os inimigos, sofrendo sem murmurar as zombarias e maus-tratos. Ocorriam-lhes todos os acontecimentos de Seu julgamento e crucifixão, com uma empolgante convicção de que Ele era o Filho de Deus. Pensavam que poderia a qualquer momento apresentar-Se diante deles, o Acusado tornando-se acusador, o Condenado a condenar, o Morto a exigir justiça na morte de Seus assassinos. {DTN 550.1}
Pouco puderam repousar no sábado. Embora não transpusessem o limiar de um gentio por temor de contaminação, tiveram no entanto, um conselho quanto ao corpo de Cristo. A morte e o sepulcro deviam guardar Aquele a quem crucificaram. “Reuniram-se os príncipes dos sacerdotes em casa de Pilatos, dizendo: Senhor, lembramo-nos de que aquele enganador, vivendo ainda, disse: Depois de três dias ressuscitarei. Manda pois que o sepulcro seja guardado com segurança até o terceiro dia, não se dê o caso que os Seus discípulos vão de noite, e O furtem, e digam ao povo: Ressuscitou dos mortos; e assim o último erro será pior do que o primeiro. E disse-lhes Pilatos: Tendes a guarda; ide, guardai-O como entenderdes”. Mateus 27:62-65. {DTN 550.2}
Os sacerdotes deram ordens para ser guardado o sepulcro. Uma grande pedra fora colocada diante da entrada. Através dessa pedra, puseram cordas, prendendo as extremidades à sólida rocha e selando-as com o selo romano. A pedra não podia ser removida sem quebrar o selo. Uma guarda de cem soldados foi então colocada em volta do sepulcro, para impedir que alguém tentasse contra sua segurança. Os sacerdotes fizeram o que puderam para manter o corpo de Cristo onde fora posto. Foi fechado com tanta segurança em Seu túmulo, como se nele devesse permanecer para sempre. {DTN 550.3}
Assim se aconselhavam e faziam planos fracas criaturas. Mal percebiam esses homicidas a inutilidade de seus esforços. Por seu proceder, no entanto. Deus foi glorificado. Os próprios esforços, feitos para impedir a ressurreição de Cristo, são os mais convincentes argumentos em prová-la. Quanto maior o número de soldados colocados ao redor do sepulcro, tanto mais vigoroso o testemunho de que Ele ressurgira. Centenas de anos antes da morte de Cristo, o Espírito Santo declarara por intermédio do salmista: “Por que se amotinam as gentes, e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da Terra se levantam, e os príncipes juntos se mancomunam contra o Senhor e contra o Seu Ungido. [...] Aquele que habita no Céu Se rirá; o Senhor zombará deles”. Salmos 2:1-4. As guardas e as armas romanas foram impotentes para limitar o Senhor da Vida dentro do túmulo. Aproximava-se a hora de Sua libertação.{DTN 551.1}
Capítulo 81 — “O Senhor ressuscitou”
Este capítulo é baseado em Mateus 28:2-4, 11-15.
Lentamente passara a noite do primeiro dia da semana. Havia soado a hora mais escura, exatamente antes do raiar da aurora. Cristo continuava prisioneiro em Seu estreito sepulcro. A grande pedra estava em seu lugar; intato, o selo romano; a guarda, de sentinela. Vigias invisíveis ali estavam também. Hostes de anjos maus se achavam reunidas em torno daquele lugar. Houvesse sido possível, e o príncipe das trevas, com seu exército de apóstatas, teria mantido para sempre fechado o túmulo que guardava o Filho de Deus. Uma hoste celeste, porém, circundava o sepulcro. Anjos magníficos em poder o guardavam, esperando o momento de saudar o Príncipe da Vida. {DTN 552.1}
“E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do Céu, chegou”. Mateus 28:2. Vestido com a armadura de Deus, deixou este anjo as cortes celestiais. Os brilhantes raios da glória divina o precediam, iluminando-lhe o caminho. “E o seu aspecto era como um relâmpago, e o seu vestido branco como a neve. E os guardas, com medo dele, ficaram muito assombrados, e como mortos”. Mateus 28:3, 4. {DTN 552.2}
Onde está, sacerdotes e príncipes, o poder de vossa guarda? — Bravos soldados que nunca se atemorizaram diante do poder humano, são agora como cativos aprisionados sem espada nem lança. O rosto que contemplam não é o de um guerreiro mortal; é a face do mais poderoso das hostes do Senhor. Este mensageiro é o que ocupa a posição da qual caiu Satanás. Fora aquele que nas colinas de Belém proclamara o nascimento de Cristo. A terra treme à sua aproximação, fogem as hostes das trevas, e enquanto ele rola a pedra, dir-se-ia que o Céu baixara à Terra. Os soldados o vêem removendo a pedra como se fora um seixo, e ouvem-no exclamar: Filho de Deus, ressurge! Teu Pai Te chama. Vêem Jesus sair do sepulcro, e ouvem-nO proclamar sobre o túmulo aberto: “Eu sou a ressurreição e a vida.” Ao ressurgir Ele em majestade e glória, a hoste angélica se prostra perante o Redentor, em adoração, saudando-O com hinos de louvor. {DTN 552.3}
Um terremoto assinalara a hora em que Jesus depusera a vida; outro terremoto indicou o momento em que a retomou em triunfo. Aquele que vencera a morte, e a sepultura, saiu do túmulo com o passo do vencedor, por entre o cambalear da terra, o fuzilar dos relâmpagos e o ribombar dos trovões. Quando vier novamente à Terra, comoverá “não só a Terra, senão também o céu”. Hebreus 12:26. “De todo vacilará a Terra como o bêbado, e será movida e removida como a choça”. Isaías 24:20. “E os céus se enrolarão como um livro” (Isaías 34:4); “os elementos, ardendo, se desfarão, e a Terra, e as obras que nela há se queimarão”. 2 Pedro 3:10. “Mas o Senhor será o refúgio do Seu povo, e a fortaleza dos filhos de Israel”. Joel 3:16.{DTN 552.4}
Ao morrer Jesus, tinham os soldados visto a Terra envolta em trevas ao meio-dia; ao ressurgir, porém, viram o resplendor dos anjos iluminar a noite, e ouviram os habitantes do Céu cantarem com grande alegria e triunfo: “Tu venceste Satanás e os poderes das trevas; Tu tragaste a morte na vitória” {DTN 553.1}
Cristo saiu do sepulcro glorificado, e a guarda romana O contemplou. Seus olhos fixaram-se no rosto dAquele a quem, havia tão pouco, tinham escarnecido e ridicularizado. Neste Ser glorificado, viram o Prisioneiro que tinham contemplado no tribunal, Aquele para quem haviam tecido uma coroa de espinhos. Era Aquele que, sem resistência, estivera em presença de Pilatos e de Herodes, o corpo lacerado pelos cruéis açoites. Era Aquele que fora pregado na cruz, para quem os sacerdotes e os príncipes, cheios de satisfação própria, haviam sacudido a cabeça, dizendo: “Salvou os outros, e a Si mesmo não pode salvar-Se”. Mateus 27:42. Era Aquele que fora deposto no sepulcro novo de José. O decreto do Céu libertara o Cativo. Montanhas amontoadas sobre montanhas em cima de Seu túmulo, não O poderiam haver impedido de sair. {DTN 553.2}
À vista dos anjos e do Salvador glorificado, os guardas romanos desmaiaram e ficaram como mortos. Quando a comitiva celeste foi oculta a seus olhos, eles se ergueram e, tão rápido como lhes permitiram os trêmulos membros, encaminharam-se para a porta do horto. Cambaleando como bêbados, precipitaram-se para a cidade, dando as maravilhosas novas àqueles com quem se encontravam. Iam em busca de Pilatos, mas sua narração foi levada às autoridades judaicas, e os principais dos sacerdotes e os príncipes mandaram-nos buscar primeiro à sua presença. Estranho era o aspecto daqueles soldados. Tremendo de temor, faces desmaiadas, testificaram da ressurreição de Cristo. Disseram tudo, exatamente como tinham visto; não haviam tido tempo de pensar ou falar qualquer coisa que não fosse a verdade. Com doloroso acento, disseram: Foi o Filho de Deus que foi crucificado; ouvimos um anjo proclamá-Lo a Majestade do Céu, o Rei da glória. {DTN 553.3}
O rosto dos sacerdotes estava como o de um morto. Caifás tentou falar. Moveram-se-lhe os lábios, mas não conseguiram emitir nenhum som. Os soldados estavam para deixar a sala do conselho, quando os deteve uma voz. {DTN 553.4}
Caifás conseguira falar, por fim: “Esperai, esperai”, disse. “Não digais a ninguém o que vistes.” Uma mentirosa história foi então posta na boca dos soldados. “Dizei: Vieram de noite os Seus discípulos e, dormindo nós, O furtaram”. Mateus 28:13. Aí se enganaram os sacerdotes. Como poderiam os soldados dizer que os discípulos tinham furtado o corpo enquanto eles dormiam? Se dormiam, como podiam saber? E, houvessem os discípulos provadamente roubado o corpo de Cristo, não teriam os sacerdotes sido os primeiros a condená-los? Ou, caso houvessem as sentinelas dormido junto ao sepulcro, não teriam os sacerdotes se apressado a acusá-los a Pilatos? {DTN 553.5}
Os soldados horrorizaram-se ao pensamento de trazerem sobre si mesmos a acusação de dormirem em seu posto. Era este um delito castigado com a morte. Deveriam dar um falso testemunho enganando o povo, e pondo em perigo a própria vida? Não tinham feito com toda vigilância sua fatigante guarda? Como suportariam a prova, mesmo por amor do dinheiro, se juravam falso contra si próprios? {DTN 554.1}
A fim de impor silêncio ao testemunho que temiam, os sacerdotes prometeram salvaguardar os soldados, dizendo que Pilatos quereria tampouco como eles próprios que aquela notícia circulasse. Os soldados romanos venderam sua integridade aos judeus por dinheiro. Chegaram à presença dos sacerdotes carregados com a mais assustadora mensagem de verdade; saíram com uma carga de dinheiro, e tendo na língua uma falsa história para eles forjada pelos sacerdotes. {DTN 554.2}
Entretanto, a notícia da ressurreição de Cristo fora levada a Pilatos. Se bem que este houvesse sido responsável por entregar a Jesus à morte, estava relativamente descuidoso. Embora tivesse condenado o Salvador contra a vontade, e com sentimento de compaixão, não experimentara ainda verdadeiro pesar. Aterrado, fechara-se agora em casa, decidido a não ver ninguém. Os sacerdotes, porém, abrindo caminho até sua presença, contaram a história que haviam inventado, e pediram-lhe que passasse por alto a negligência do dever por parte das sentinelas. Antes de assim fazer, ele próprio interrogou particularmente os guardas. Estes, temendo pela própria segurança, não ousaram ocultar nada, e Pilatos tirou deles a narração de tudo quanto ocorrera. Não levou adiante a questão, mas desde aquele dia não houve mais paz para ele. {DTN 554.3}
Quando Jesus foi posto no sepulcro, Satanás triunfou. Ousou esperar que o Salvador não retomaria novamente a vida. Reclamava o corpo do Senhor, e pôs sua guarda em torno do túmulo, procurando manter Cristo prisioneiro. Ficou furioso quando seus anjos fugiram diante do celeste mensageiro. Ao ver Cristo sair em triunfo compreendeu que seu reino chegaria a termo, e que ele devia morrer afinal. {DTN 554.4}
Matando Cristo, os sacerdotes se tinham tornado instrumentos de Satanás. Achavam-se agora inteiramente em seu poder. Estavam emaranhados numa teia da qual não viam escape, senão continuando sua guerra contra Cristo. Ao ouvirem a notícia de Sua ressurreição, temeram a ira do povo. Recearam que a própria vida corresse perigo. A única esperança para eles, era provar ser Cristo um impostor, negando haver ressuscitado. Subornaram os soldados e conseguiram o silêncio de Pilatos. Espalharam por perto e por longe sua mentirosa história. Testemunhas havia, porém, a quem não podiam reduzir ao silêncio. Muitos tinham ouvido falar do testemunho dos soldados quanto à ressurreição de Cristo. E alguns dos mortos ressuscitados com Jesus apareceram a muitos, declarando que Ele ressurgira. Foi levada aos sacerdotes a notícia de pessoas que tinham visto esses ressuscitados, ouvindo o testemunho deles. Os sacerdotes e os principais estavam em contínuo terror, não acontecesse que, ao andar pelas ruas, ou no interior das próprias casas, se viessem a encontrar face a face com Jesus. Sentiam que não havia segurança para eles. Ferrolhos e traves não passavam de frágil proteção contra o Filho de Deus. De dia e de noite achava-se diante deles aquela horrível cena do tribunal, quando clamaram: “O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. Mateus 27:25. Nunca mais se lhes havia de apagar da memória aquela cena. Jamais desceria sobre eles um sono tranqüilo. {DTN 554.5}
Quando foi ouvida no túmulo de Cristo a voz do poderoso anjo, dizendo: “Teu Pai Te chama”, o Salvador saiu do sepulcro pela vida que havia em Si mesmo. Provou-se então a verdade de Suas palavras: “Dou a Minha vida para tornar a tomá-la. [...] Tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la”. João 10:17, 18. Então se cumpriu a profecia que fizera aos sacerdotes e príncipes: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei”. João 2:19. {DTN 555.1}
Sobre o fendido sepulcro de José, Cristo proclamara triunfante: “Eu sou a ressurreição e a vida.” Essas palavras só podiam ser proferidas pela Divindade. Todos os seres criados vivem pela vontade e poder de Deus. São dependentes depositários da vida de Deus. Do mais alto serafim ao mais humilde dos seres vivos, todos são providos da Fonte da vida. Unicamente Aquele que é um com Deus, podia dizer: “Tenho poder para a dar [a vida], e poder para tornar a tomá-la”. João 10:18. Em Sua divindade possuía Cristo o poder de quebrar as algemas da morte. {DTN 555.2}
Cristo ressurgiu dos mortos como as primícias dos que dormem. Era representado pelo molho movido, e Sua ressurreição teve lugar no próprio dia em que o mesmo devia ser apresentado perante o Senhor. Por mais de mil anos esta simbólica cerimônia fora realizada. Das searas colhiam-se as primeiras espigas de grãos maduros, e quando o povo subia a Jerusalém, por ocasião da páscoa, o molho das primícias era movido como uma oferta de ações de graças perante o Senhor. Enquanto essa oferenda não fosse apresentada, a foice não podia ser metida aos cereais, nem estes ser reunidos em molhos. O molho dedicado a Deus representava a colheita. Assim Cristo, as primícias, representava a grande colheita espiritual para o reino de Deus. Sua ressurreição é o tipo e o penhor da ressurreição de todos os justos mortos. “Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com Ele”. 1 Tessalonicenses 4:14. {DTN 555.3}
Quando Cristo ressurgiu, trouxe do sepulcro uma multidão de cativos. O terremoto, por ocasião de Sua morte, abrira-lhes o sepulcro e, ao ressuscitar Ele, ressurgiram juntamente. Eram os que haviam colaborado com Deus, e que à custa da própria vida tinham dado testemunho da verdade. Agora deviam ser testemunhas dAquele que os ressuscitara dos mortos. {DTN 555.4}
Durante Seu ministério, Jesus ressuscitara mortos. Fizera reviver o filho da viúva de Naim, a filha do principal, e Lázaro. Estes não foram revestidos de imortalidade. Ressurgidos, estavam ainda sujeitos à morte. Aqueles, porém, que ressurgiram por ocasião da ressurreição de Cristo, saíram para a vida eterna. Ascenderam com Ele, como troféus de Sua vitória sobre a morte e o sepulcro. Estes, disse Cristo, não mais são cativos de Satanás. Eu os redimi. Trouxe-os da sepultura como as primícias de Meu poder, para estarem comigo onde Eu estiver, para nunca mais verem a morte nem experimentarem a dor. {DTN 555.5}
Esses entraram na cidade e apareceram a muitos, declarando: Cristo ressurgiu dos mortos, e nós ressurgimos com Ele. Assim foi imortalizada a sagrada verdade da ressurreição. Os ressurgidos santos deram testemunho da veracidade das palavras: “Os Teus falecidos viverão; juntamente com o Meu cadáver eles se levantarão.” Sua ressurreição era um símile do cumprimento da profecia: “Acordai, e gritai jubilando, vós que habitais no pó; porque o teu orvalho é um orvalho de ervas; e a Terra dará de si os defuntos” (Isaías 26:19, Trad. Trinitariana).{DTN 556.1}
Para o crente, Cristo é a ressurreição e a vida. Em nosso Salvador é restaurada a vida que se perdera mediante o pecado; pois Ele possui vida em Si mesmo, para vivificar a quem quer. Acha-Se investido do direito de conceder a imortalidade. A vida que Ele depusera como homem, Ele reassumiu e concedeu aos homens. Disse Ele: “Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância”. João 10:10. “Aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”. João 4:14. “Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia”. João 6:54. {DTN 556.2}
Para o crente a morte não é senão de pouca importância. Cristo fala dela como se fora de pouco valor. “Se alguém guardar a Minha palavra, nunca verá a morte”, “nunca provará a morte”. João 8:51, 52. Para o cristão a morte não é mais que um sono, um momento de silêncio e escuridão. A vida está escondida com Cristo em Deus, e “quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória”. Colossences 3:4. {DTN 556.3}
A voz que bradou da cruz: “Está consumado” (João 19:30), foi ouvida entre os mortos. Penetrou as paredes dos sepulcros, ordenando aos que dormiam que despertassem. Assim será quando a voz de Cristo for ouvida do céu. Ela penetrará as sepulturas e abrirá os túmulos, e os mortos em Cristo ressurgirão. Na ressurreição do Salvador, algumas tumbas foram abertas, mas em Sua segunda vinda todos os queridos mortos Lhe ouvirão a voz, saindo para uma vida gloriosa, imortal. O mesmo poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, erguerá Sua igreja, glorificando-a com Ele, acima de todos os principados, de todas as potestades, acima de todo nome que se nomeia, não somente neste mundo mas também no mundo por vir. {DTN 556.4}
Capítulo 82 — “Por que choras?”
Este capítulo é baseado em Mateus 28:1, 5-8; Marcos 16:1-8; Lucas 24:1-12; João 20:1-18.
As mulheres que estiveram ao pé da cruz de Cristo esperaram, atentas, que passassem as horas de sábado. No primeiro dia da semana, muito cedo, fizeram o caminho para o sepulcro, levando consigo preciosas especiarias para ungirem o corpo do Salvador. Não pensavam em Sua ressurreição. Pusera-se o sol de suas esperanças e fizera-se noite em seu coração. Enquanto caminhavam, relembravam entre si as obras de misericórdia realizadas por Cristo, bem como Suas palavras de conforto. Não lembravam, entretanto, as que proferira: “Outra vez vos verei”. 1 João 16:22. {DTN 557.1}
Ignorantes do que se passava mesmo então, aproximaram-se do horto, dizendo: “Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?” Mateus 16:3. Sabiam não lhes ser possível afastá-la, todavia continuaram para diante. E eis que os céus se iluminaram de repente com uma glória que não provinha do Sol nascente. A terra tremeu. Elas viram que a pedra fora removida. O sepulcro estava vazio. {DTN 557.2}
As mulheres que foram ao sepulcro, não partiram todas do mesmo lugar. Maria Madalena foi a primeira a chegar ao local; e ao ver que a pedra fora retirada, correu para anunciá-lo aos discípulos. Entrementes, chegaram as outras mulheres. Havia uma luz em volta do sepulcro, mas o corpo de Jesus não se achava ali. Enquanto andavam em torno, viram de repente não se encontrarem sós. Um jovem de vestes brilhantes estava sentado junto ao túmulo. Era o anjo que rolara a pedra. Tomara a forma humana, a fim de não atemorizar essas discípulas de Jesus. Todavia, brilhava-lhe ainda em torno a glória celestial, e as mulheres temeram. Voltaram-se para fugir, mas as palavras do anjo lhes detiveram os passos. “Não tenhais medo”, disse ele; “pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar em que o Senhor jazia. Ide pois, imediatamente, e dizei aos Seus discípulos que já ressuscitou dos mortos”. Mateus 28:5-7. De novo olharam elas para o sepulcro, e tornaram a ouvir as maravilhosas novas. Outro anjo, em forma humana, ali está, e diz: “Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galiléia, dizendo: Convém que o Filho do homem seja entregue na mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite”. Lucas 24:5-7. {DTN 557.3}
Ressuscitou! Ressuscitou! As mulheres repetem e tornam a repetir as palavras. Não há, pois, necessidade de especiarias para unção. O Salvador está vivo, e não morto. Recordaram-se então de que, falando em Sua morte, Ele dissera que ressurgiria. Que dia é este para o mundo! Apressadas, afastam-se as mulheres do sepulcro e “com temor e grande alegria, correram a anunciá-lo aos Seus discípulos”. Mateus 28:8. {DTN 557.4}
Maria não ouvira as boas-novas. Foi ter com Pedro e João, levando a dolorosa mensagem: “Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde O puseram”. João 20:13. Os discípulos correram para o túmulo, e acharam ser como Maria dissera. Viram o sudário e o lenço, mas não acharam o Senhor. Havia, no entanto, mesmo ali o testemunho de Sua ressurreição. As roupas do sepultamento não estavam atiradas com negligência, a um lado, mas cuidadosamente dobradas, cada uma num lugar à parte. João “viu, e creu”. Ainda não compreendia a escritura que dizia dever Cristo ressuscitar dos mortos; mas lembrou-se então das palavras do Salvador, predizendo Sua ressurreição. {DTN 558.1}
Fora o próprio Cristo que colocara com tanto cuidado as roupas com que O sepultaram. Quando o poderoso anjo baixara ao sepulcro, uniu-se-lhe outro que estivera com seu grupo, montando guarda ao corpo do Senhor. Enquanto o anjo do Céu removeu a pedra, o outro entrou no sepulcro e desembaraçou o corpo de Jesus de seu invólucro. Foram, porém, as próprias mãos do Salvador que dobraram cada peça, pondo-as em seu lugar. Ao Seu olhar, que guia semelhantemente a estrela e o átomo, nada há sem importância. Ordem e perfeição se manifestam em toda a Sua obra. {DTN 558.2}
Maria acompanhara João e Pedro ao sepulcro; quando voltaram a Jerusalém, ela permaneceu. Contemplando a tumba vazia, o coração encheu-se-lhe de dor. Olhando para dentro, viu os dois anjos, um à cabeceira, outro aos pés do lugar em que Jesus jazera. “Mulher, por que choras?” perguntaram-lhe. “Porque levaram o meu Senhor”, disse ela, “e não sei onde O puseram”. João 20:13. {DTN 558.3}
Então ela se voltou para se afastar, mesmo dos anjos, pensando em encontrar alguém que lhe dissesse o que fora feito com o corpo de Jesus. Outra voz a ela se dirigiu: “Mulher, por que choras? Quem buscas?” Através das lágrimas que lhe empanavam os olhos, Maria viu a figura de um homem e, pensando que fosse o hortelão, disse: “Senhor, se tu O levaste, dize-me onde O puseste, e eu O levarei.” Se o sepulcro desse rico era julgado um lugar de sepultamento demasiado honroso para Jesus, ela própria proveria um local para Ele. Havia um sepulcro que a voz do próprio Jesus deixara vago, aquele em que Lázaro jazera. Não poderia ela achar ali uma sepultura para seu Senhor? Sentiu que cuidar desse precioso corpo crucificado ser-lhe-ia uma grande consolação em sua mágoa. {DTN 558.4}
Mas então, em Sua voz familiar, lhe diz Jesus: “Maria!” Agora sabia que não era um estranho que se dirigia a ela e, voltando-se, viu diante de si o Cristo vivo. Em sua alegria, esqueceu que Ele fora crucificado. Saltando para Ele, como para abraçar-Lhe os pés, disse ela: “Raboni”. João 20:16. Cristo, porém, ergueu a mão, dizendo: Não Me detenhas, “porque ainda não subi para Meu Pai, mas vai para Meus irmãos, e dize-lhes que Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus”. João 20:17. E Maria pôs-se a caminho para ir ter com os discípulos, com a jubilosa mensagem. {DTN 558.5}
Jesus recusou receber a homenagem de Seu povo até haver obtido a certeza de estar Seu sacrifício aceito pelo Pai. Subiu às cortes celestiais, e ouviu do próprio Deus a afirmação de que Sua expiação pelos pecados dos homens fora ampla, de que por meio de Seu sangue todos poderiam obter a vida eterna. O Pai ratificou o concerto feito com Cristo, de que receberia os homens arrependidos e obedientes, e os amaria mesmo como ama a Seu Filho. Cristo devia completar Sua obra, e cumprir Sua promessa de que “o varão será mais precioso que o ouro, e o homem sê-lo-á mais que o ouro acrisolado” (Isaías 13:12, Trad. Figueiredo). Todo o poder no Céu e na Terra foi dado ao Príncipe da Vida, e Ele voltou para Seus seguidores num mundo de pecado, a fim de lhes comunicar Seu poder e glória. {DTN 559.1}
Enquanto o Salvador Se achava na presença de Deus, recebendo dons para Sua igreja, pensavam os discípulos no sepulcro vazio, e lamentavam-se e choravam. O dia em que todo o Céu vibrava de alegria, era para os discípulos de incerteza, confusão e perplexidade. Sua incredulidade no testemunho levado pelas mulheres é uma prova de quão baixo lhes caíra a fé. As notícias da ressurreição de Cristo eram tão diversas do que haviam antecipado, que as não podiam crer. Eram demasiado boas para serem verdade, pensavam. Haviam ouvido tanto das doutrinas e das chamadas científicas teorias dos fariseus, que era vaga a impressão produzida no espírito deles quanto à ressurreição. Mal sabiam o que podia significar a ressurreição dos mortos. Eram incapazes de conceber o grande fato. {DTN 559.2}
“Ide”, disseram os anjos às mulheres, “dizei a Seus discípulos, e a Pedro, que Ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali O vereis, como Ele vos disse”. Mateus 28:7. Esses anjos estiveram com Cristo, como guardas, durante Sua existência terrestre. Testemunharam-Lhe o julgamento e a crucifixão. Ouviram Suas palavras aos discípulos. Isso se demonstrava por sua mensagem aos mesmos, e os deveria haver convencido da veracidade do que lhes era transmitido. Essas palavras só poderiam provir dos mensageiros de seu Senhor ressuscitado.{DTN 559.3}
“Dizei a Seus discípulos, e a Pedro”, disseram os anjos. Desde a morte de Cristo, Pedro se achava sucumbido pelo remorso. Sua vergonhosa negação de seu Senhor, e o olhar de amor e de angústia do Salvador achavam-se sempre diante dele. De todos os discípulos, fora o que mais pungentemente sofrera. A Pedro é dada a certeza de que seu arrependimento fora aceito e seu pecado perdoado. É mencionado nominalmente. {DTN 559.4}
“Dizei a Seus discípulos, e a Pedro, que Ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali O vereis”. Marcos 16:7. Todos os discípulos haviam abandonado a Jesus, e o chamado para se encontrarem com Ele outra vez os inclui a todos. Ele não os rejeitou. Quando Maria Madalena lhes disse que vira o Senhor, repetiu o convite para o encontro na Galiléia. E pela terceira vez lhes foi enviada a mensagem. Depois de haver ascendido ao Pai, Jesus apareceu às outras mulheres, dizendo: “Eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os Seus pés, e O adoraram. Então Jesus lhes disse: Não temais; ide dizer a Meus irmãos que vão a Galiléia, e lá Me verão”. Mateus 28:10. {DTN 559.5}
A primeira obra de Cristo na Terra, depois de Sua ressurreição, foi convencer os discípulos de Seu inalterável amor e terna solicitude para com eles. Para lhes dar testemunho de que era seu Salvador vivo, de que quebrara as cadeias do túmulo, e não mais podia ser retido pelo inimigo, a morte; para revelar que tinha o mesmo coração de amor de quando andava com eles como seu amado Mestre, apareceu-lhes por várias vezes. Queria estreitar ainda mais em torno deles os laços de amor. Ide, dizei a Meus irmãos, disse Ele, que Me encontrem na Galiléia. {DTN 560.1}
Ao ouvirem essa combinação, feita de maneira tão positiva, os discípulos começaram a pensar nas palavras de Cristo, predizendo-lhes Sua ressurreição. Mesmo então, no entanto, não se regozijaram. Não podiam expulsar de si as dúvidas e perplexidades. Mesmo quando as mulheres declararam haver visto o Senhor, os discípulos não queriam crer. Julgavam-nas sob a influência de uma ilusão. {DTN 560.2}
Parecia que se acumulava aflição sobre aflição. No sexto dia da semana tinham presenciado a morte do Mestre; no primeiro dia da semana seguinte, viram-se privados de Seu corpo, e eram acusados de O haver roubado para enganar o povo. Desesperavam de poder desfazer as falsas impressões que ganhavam terreno contra eles. Temiam a inimizade dos sacerdotes e a ira do povo. Anelavam a presença de Jesus, que os ajudara em toda perplexidade. {DTN 560.3}
Repetiam muitas vezes as palavras: “E nós esperávamos que fosse Ele o que remisse Israel”. Lucas 24:21. Sentindo-se tão sós e tão repassados de dor, lembraram as Suas palavras: “Se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao seco?” Lucas 23:31. Reuniram-se no cenáculo e fecharam bem as portas, sabendo que a sorte de seu amado Mestre poderia a qualquer momento ser a deles mesmos. {DTN 560.4}
E todo esse tempo se poderiam estar regozijando no conhecimento de um Salvador ressuscitado! No horto, Maria estivera chorando, quando Jesus Se achava mesmo junto dela. Tão cegados tinha os olhos pelas lágrimas, que O não distinguira. E o coração dos discípulos estava tão cheio de pesar, que não creram na mensagem do anjo, nem nas palavras do próprio Cristo. {DTN 560.5}
Quantos estão a fazer ainda o que fizeram esses discípulos! Quantos se fazem eco do desalentado lamento de Maria: “Levaram o Senhor, [...] e não sabemos onde O puseram!” A quantos se poderiam dirigir as palavras do Senhor: “Por que choras? Quem buscas?” João 20:13, 15. Ele lhes está tão próximo, mas seus olhos cegados pelo pranto O não distinguem. Fala-lhes, mas não compreendem. {DTN 560.6}
Oh! que a pendida cabeça se erguesse, que os olhos se abrissem para vê-Lo, que os ouvidos Lhe escutassem a voz! “Ide pois, imediatamente, e dizei aos Seus discípulos que já ressuscitou”. Mateus 28:7. Convidai-os a olhar, não ao sepulcro novo de José, fechado com uma grande pedra, e selado com o selo romano. Cristo não está ali. Não olheis ao sepulcro vazio. Não vos lamenteis como os que se acham sem esperança e desamparados. Jesus vive, e porque Ele vive, nós também viveremos. De corações agradecidos, de lábios tocados com o fogo sagrado, ressoe o alegre cântico: Cristo ressurgiu! Ele vive para fazer intercessão por nós. Apegai-vos a essa esperança, e ela vos firmará a alma qual âncora segura e provada. Crede, e vereis a glória de Deus. {DTN 561.1}
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Espero que tenham gostado de mais uma experiencia na cozinha!
Mas gente... se lembrem... divirtam-se SEMPRE na cozinha!
E nos contem aqui o que acharam, passaram e fizeram!
Beijinhos meu povo!